25 junho 2009

Eu, a memória e o seu dissertar.

Dentro de duas semanas serei tentado a olhar para trás. Autoconhecimento. Sabe o que me contaram? Que lá é meu porto seguro, onde encontro as pessoas que me querem bem, o lugar que sempre me fez feliz. Retiro aqui as pessoas que me querem bem. Não as terei por hora. Serei eu, a memória e o seu dissertar. Vou ter dias calados e tempo mais que suficiente para entender o que eu quis lhe dizer. Aproveitarei para botar na balança minhas atitudes e prioridades. Como você sabe, exagero nas intensidades: as aumento quando preciso diminuir e as diminuo quando tento exagerar. Preparo o terreno para o sim e para o não. Você consegue perceber que isso aqui não passa de um brega ensaio ficcional? Divertido é me imaginar em situações exteriores, arriscando e perdendo, controlando palavras para não ganhar demais. Ganância combina com a gente, mas um limite faz-se necessário e eu tenho medo de não o respeitar. Deixo contigo palavras inacabadas. Não que elas se relacionem com você. Você sabe interpretá-las muito bem e vai perceber que aqui elas falaram só de mim. Não concorda que passar um tempo fora faz a gente respirar?
O que me fez aquele dia escrever linhas e linhas às 3h50 da manhã foi algo que tirou meu sono por todo um fim de semana. Sabe nossa última conversa? Ela é a chave para tudo isso daqui! Uma vez iniciada, ela vai ter um fim. Mais rápido do que eu imagino. E mais sincero do que você possa acreditar.

18 junho 2009

Citação.

Conseguiram resumir minhas últimas semanas.

"Suas nostalgias em relação à infância. Eu já te disse a razão que eu acho disso: Você se afastou dela em um momento bom e sempre que você está vivendo algum momento ruim é lá que você vê teu porto seguro, as pessoas que te querem bem, o lugar que sempre te fez feliz. Entende o que eu quero dizer?
Isso é normal. É só ver sua condição, tua história de vida: completamente compreensível. Você vai ser aqueles tios babões, com visão longe, mas que nunca esquece de onde veio; que vai ter orgulho da tua terra, de voltar, ter os olhos brilhando ao vê-la; desejar aos teus filhos a mesma infância que você teve. Foi uma época boa. Você nunca esquece isso porque lá foi uma época que você via tudo com as lentes de um outro Gabriel de uma outra época. De uma época e de um Gabriel que você sente falta, que você vê que amadureceu, que vê a vida de um modo mais adequado, mas mesmo assim sente falta.
Mas tem algo que eu vejo em ti que eu gosto tanto: Eu tenho a tua vida na minha cabeça. Você teve amigos na tua cidade, aqueles que você conta nos dedos, que nunca iriam querer teu mal, aqueles de dividir cada momento da pacata cidade, cada pensamento, aqueles AMIGOS de letra maiúscula, pois não há outra definição pra fazer."

05 junho 2009

Saudade.

Ao som de Andvari - Sigur Ròs.

Vez ou outra me ocorre um forte sentimento nostálgico que não sei explicar ao certo. Vou tentar hoje, porque ele resolveu aparecer mais uma vez. E quando ele aparece tenho vontade de rir, chorar, abraçar... Mas uma vontade sempre prevalece, a de andar sem rumo. Acontece que é algo mágico: desde pequeno tenho em mente uma imagem de alguma cidade. O legal é que não sei qual é essa cidade, não sei se foi alguma foto ou imagem que vi, muito menos se algum dia estive em um local assim. Me vem à cabeça uma cidade com ruas de pedra, típica de interior. As casas com telhas de barro, daquelas modeladas há velhos tempos nas coxas das escravas. Entre as casas, árvores, muitas árvores. Palmeiras altas, brincando com um céu de fim de tarde. E junto com todos esses elementos vem outra nostalgia mais forte, da casa da minha avó durante vários finais de tarde felizes, em que eu a via preparar o jantar. Junto agora aos meus sentimentos a sinestesia: sinto o gosto da comida, vejo o vapor saindo das panelas e ouço as madeiras estalando no fogão à lenha. A luz é fraca, mas luz o suficiente para tornar todo o ambiente amarelado. E o rádio toca músicas características do sertanejo raiz. Como sempre acontece nessa minha nostalgia, a imagem inicial da cidade se transforma em uma esquina da minha cidade natal. Bem na rua da casa que desde pequeno eu quero comprar. Engraçado isso mas eu nunca esqueci a escada de madeira daquela casa, do chão de tacos, do pêndulo eterno do relógio que ficava em cima da geladeira... Por muitos anos foi a casa de um tio meu. Quando me lembro dessa casa, vêm logo em seguida os Natais da infância. Eu brincava com a árvore de natal da casa desse meu tio. E adorava andar pela cidade iluminada, parando na praça central abaixo da gigante árvore de luzes que inúmeras vezes povoou meus fins de ano. Eu sinto meu cabelo molhado, de menino que acabou de sair do banho e se arrumou para comemorar as festividades com a família. Era sempre o mesmo cronograma, as duas casas, as duas avós. Cada uma com seu jeito, o seu lugar especial. Uma tem vários netos. A outra tinha eu e meu irmão e ela cuidava da gente como se fôssemos muitos. Ela já se foi, mas me abraça agora, nesse exato momento. Interessante como uma imagem que não consigo saber se é verdadeira, se foi vivida, ou se faz parte do meu imaginário me leva a retornar em momentos ímpares da minha vida, como brincar abaixo da ponte próxima à casa de outro tio, como chegar perto das tais luzes de Natal e sentir o calor emanado por elas, como dormir enquanto minha madrinha me abraçava, como quando eu ria nos meus primeiros meses de vida enquanto meu pai brincava comigo. Quem disse que homem não chora não pode dizer que já sentiu saudades. Chorei escrevendo esse texto e nunca me envergonharia de contar isso. Aliás é a segunda vez que choro escrevendo um texto que me traz lembranças antigas. E o choro contrasta com meus sorrisos na garupa da bicicleta do meu avô, quando ele me levava para seu trabalho, parava no mesmo bar, comprava um guaraná pra eu comer com os biscoitos que minha avó preparava. Ele me deixava vê-lo trabalhar e se orgulhava disso. Ele de certa forma passava adiante o que a vida lhe ensinou. E mesmo que eu não tenha seguido o seu caminho, nunca vou me esquecer de momentos como esses.

"A imagem inicial da cidade se transforma em uma esquina da minha cidade natal. Bem na rua da casa que desde pequeno eu quero comprar."