16 dezembro 2010

Qual sua série favorita?

Minha vida segue ciclos - ou temporadas - como você preferir. E desde que me entendo por gente brincava que tudo o que eu vivia eram histórias contadas dentro de um grande seriado. Confesso que quando criança eu brincava de fazer as aberturas desse seriado, colocava o nome dos meus amigos, em ordem de importância na trama, junto com o meu. E no passar desses anos, muitos nomes saíram, outros entraram, alguns permaneceram por longos anos, alguns voltavam mais tarde...
Sempre imaginei demais, sempre gostei de contar histórias na minha cabeça. E num ato um pouco egoísta, usei as histórias desses meus amigos no meu drama pessoal, porque, paradoxalmente, esse egoísmo se transformava em uma vontade imensa de compartilhar minha história e as histórias deles em um mesmo lugar. Foi assim quando aquela paixão platônica se transformou na melhor amiga, e que contava suas paixões platônicas pra mim episódios depois. Foi assim quando meu amigo me ligou chorando contando ser gay e que não queria perder minha amizade, que precisava dela agora mais do que nunca. Quando esse amigo gay me chamou na sua casa para me mostrar fitas contendo todas as gravações telefônicas das nossas conversas. Foi assim que superamos junto o preconceito dos seus pais. Foi assim quando pegamos essas fitas, fomos para um lugar afastado da cidade e as queimamos.
Minhas histórias eram compartilhadas com as dos meus amigos quando saíamos para uma noite de bebedeira e comemorávamos internamente as conquistas amorosas uns dos outros, quando sorríamos depois de uma noite repleta de aventura, regada com acidente de carro do pai do amigo, da nossa história para esconder esse acidente, da nossa história para os policiais que indagavam o que quatro pessoas faziam dentro de um carro madrugada afora naquela praça, do nosso medo de deixar a amiga em casa porque do outro lado da rua tinha um doido dormindo com uma faca, do nosso medo aumentando porque decidimos sair rápido mas não contávamos com a falha do carro justamente quando o louco acordou.
Nossas histórias compartilhadas, como os amigos deitados na grama depois de um dia de banho na piscina, com planos para o futuro. Os planos do amigo que queria embebedar um rapaz para poder finalmente lhe dar o tão sonhado beijo. As ideias e a elaboração daquele blog de fofocas do colégio, os medos, as dúvidas, as escolhas - apoiadas ou não. As nossas vidas.
Minha vida é um seriado de drama, de humor, suspense. Foi um seriado adolescente, jovem, é um seriado adulto que toca em assuntos sérios como vícios e gravidez. Questiona os preconceitos, brinca com eles, se diverte com a diversidade de histórias e lembranças de um grupo sempre mutável de personagens que sequer imaginam que suas experiências são guardadas e contadas por mim, para mim mesmo.
Qual é a minha série favorita? Essa. Talvez por ser totalmente desapegada à ficção, por sempre trazer histórias reais, interessantes. Dramas verdadeiros que foram resolvidos com o tempo. Diversões em grupo que se tornaram episódios para toda uma vida.
A série pode trazer meu nome. Mas é porque eu tenho muita coisa para contar. É porque tenho muita coisa para esconder. Traz meu nome porque apesar de tudo, conta a história da minha vida. Mas o que eu posso fazer se eu conto com os melhores atores do mundo para interpretar as melhores histórias do mundo, mesmo que para um único telespectador?
Sim, minha vida é uma série. E por ser baseada em fatos reais, reflete em si o que o ser humano tem de melhor: suas verdades, suas mentiras. A bondade, a maldade. Sem rodeios, sem disfarces. Desculpe, é que prefiro assim. Na minha série favorita não há espaço para ficção.