14 julho 2010

Memória.


Odeio despedidas. Se bem que essa caminha para não ser uma. Queria apenas escrever minhas palavras de sempre, aquelas que falam mais que minha voz. As palavras, que vez ou outra me dizem que as domino bem. Não sei direito, mas tenho uma puta familiaridade com essas coisinhas que juntas me fazem sentir melhor.
Hoje ainda voltarei para minha cidade natal. Aquela que eu sempre critico, seja pelas pessoas de cabeça fechada, seja pela falta do que se fazer por lá. Mas é de lá que eu vim. É lá que às vezes preciso voltar. Faz um ano que não piso em chão familiar e agora isso é mais que necessidade, mesmo eu ainda me perguntando se é o melhor que tenho a fazer. Mas a saudade é maior. A saudade de poder andar por cada uma daquelas ruas que, sim, contam muitas histórias de mim. Dos meus amigos. Dos meus pais. Aquela saudade de chegar na casa dos avós, abrir o portão, aquele código de tocar a campainha e gritar “vóóó”, para que ela possa destrancar a porta com segurança e finalmente vir te abraçar, enquanto você sente o cheiro do café que só as avós sabem fazer. Sinto falta de poder sair à noite, de rever pessoas incríveis que voltaram ali pelo mesmo motivo talvez. Falta do frio da madrugada, do silêncio que não é igual ao de nenhum outro lugar. E confessar que na minha atual conjuntura, estou sentindo saudades até de ter que visitar as tias que se trancam por medo de uma violência infundada, tias as quais nunca entendi. “Que doença é essa que ela diz que tem, mãe? Que paranóia é essa de não deixar ninguém a abraçar?”
O fato é que como eu disse, aquela merda de cidade ainda vive dentro de mim, por mais que não seja a mesma do meu tempo. Essa não é a mesma praça que eu brincava, aquela não é a mesma calçada que um dia eu desenhei. Mas, por incrível que pareça, as árvores ainda são as mesmas, e eu ainda carrego comigo essa minha espécie de energia natural. As árvores são as únicas que não mudaram, que ainda têm as mesmas histórias para contar.
Eu preciso voltar. Nos últimos doze meses fiz de tudo aqui. Lutei, briguei. Pensei muito, agi pouco. Perdi oportunidades que julgava ter tido e que hoje não passam de especulações. Menti, desmenti, menti de novo. Falei a verdade para quem julguei necessário contar. Arrumei estágio, tive medo por ter uma jornada de 16 horas fora de casa. Juntei meu dinheiro e fiz uma das coisas que eu sempre sonhei: viajei, fui viver. E com a melhor companhia que eu poderia ter. Com o único amigo que eu tenho. Não se sintam menosprezados, mas aqui a palavra “amigo” vem com seu significado mais original possível. Meu único amigo, meu melhor amigo. Uma pessoa que mesmo mais nova, às vezes me assusta com seus olhos de ancião. Vivemos muita coisa juntos, acreditem. E vivemos juntos muita coisa de cada um de nós. Vivemos muitos dias nascendo, e eram nesses momentos que eu tinha a total certeza que existiam apenas duas pessoas no mundo pensando e fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo.
E foi por essa amizade que passei meus últimos seis meses com os pensamentos a mil. É a única pessoa que me ouve por inteiro e, entendam, essa pessoa mereceria um prêmio por ouvir sempre a mesma besteira aqui. Eu sei que ela abdicaria de qualquer prêmio por isso porque ela gostava de me ouvir. Mas isso não diminui a minha gratidão por toda essa paciência. Sabemos que sempre somos recíprocos. Nos damos tapas na cara, nos abraçamos. Mas sempre voltaremos ao mesmo lugar, as mesmas tardes de diálogos banais com sucos de laranja e chocolates gelados. É o que eu mais sentirei falta. Não existe saudade alguma que supere a saudade que vou sentir de passar mais tardes assim, enquanto eu estiver longe daqui. Posso estar exagerando, de princípio, vinte dias não são nada. Para mim, são.
Preciso ir. Preciso reaprender a demonstrar meus interesses e ideais. É algo tão simples e ao mesmo tempo tão incomum… Preciso me permitir voltar. Mas antes de tudo, preciso da coragem e segurança que eu sempre esqueço de guardar. No meu quarto tenho isso por todos os lados, mas a bagunça é tanta que sempre desisto de procurar. É a verdade, é isso que acontece. Mas, uma vez que eu sei meu ponto fraco, não posso mais me permitir errar.
Eu amo tudo isso, eu amo todo mundo e eu amo todo lugar. De formas diferentes, mas são as únicas coisas que eu eu tenho certeza que vou amar.