25 janeiro 2011

15 anos.

Longe de mim ter tido uma infância calma. Só eu posso medir tudo o que me aconteceu 15 anos atrás. São aquelas coisas que contamos para poucos, escolhidos a dedo. E se eu parar para pensar, terei uma resposta simples e nítida: amigos não são medidos pelo grau de confiança. Amigo não é aquele que merece ouvir nossos piores traumas e medos. Se eu parar e olhar para trás, terei isso certo em minha cabeça. Há 15 anos o que conheço hoje como vida estava sendo montada. Meus medos, meus traumas. Tudo o que sou hoje, marcado em uma década e meia. Cansei de me esconder em mim mesmo, cansei de me imaginar vítima por algo que certamente me fez, mesmo que amedrontado, tentar criar coragem para chegar até a beirada e me permitir pular, para morrer e renascer de novo, deixar preso em um passado as correntes que atavam meus pés.
Coincidentemente, há 15 anos comecei uma amizade. Daquelas surpreendentes. Surpreendentes por dois motivos: primeiro, porque uma amizade infantil tem grandes chances de não resistir ao tempo; segundo, porque só agora percebi que quando resistem, se tornam únicas.
Você não é meu melhor amigo, de fato nunca foi, mas trilhamos caminhos diferentes sem que não pudéssemos nos ver pela estrada. Você agora é pai e eu me vejo preso em vícios modernos. Se fosse descrever nossa vida em 15 anos, intensidade não seria nunca a primeira palavra que eu iria pensar. Mas 15 anos depois você ainda me surpreende e me faz ver que mais importante que demonstrar amizade, é saber proteger. É ter instinto e reconhecer nos meus olhos que o que vivemos não foi uma espécie de irmandade, mas diálogos mudos, que falam mais pelos gestos e olhar.
Você foi o único que pulou na frente dos meus amigos e me deu um sermão calmo enquanto eu tentava provar ao mundo que eu era alguém. Você colocou duas cadeiras afastadas do resto do pessoal, uma de frente para outra. Me pediu para sentar. Você sabia que o que eu estava fazendo era errado, você nunca se permitiria continuar uma amizade com alguém que fizera o que eu havia feito. Mas você, justo você, justo quem eu menos esperava, sentou na minha frente e abriu o coração. Você só falou o que pensava. “Gabriel, eu não gosto disso, eu acho isso horrível e não sei por que você precisa disso. Eu não posso escolher por você, mas queria que você soubesse que eu não acho isso certo”. Na verdade suas palavras são vagas na minha mente. Sua expressão facial não. E disso eu nunca vou esquecer.
Toda a história dos meus últimos 15 anos me passou pela cabeça ontem, quando inesperadamente atendi sua ligação. A parte boa desses 15 anos retornou aos meus olhos. Falamos pouco, 6 minutos. Mas foram os minutos mais aconchegantes da minha vida. Me senti em casa, me senti na sua casa. Me senti em outro lugar.
Ainda tenho fotos do colégio, em 1995, e é engraçado te ver ali, em turma separada, mas na mesma foto de recordação. É engraçado também porque te conheço desde que éramos crianças. Mudamos muito. Mas é bom saber que ainda temos nossos telefones, e podemos nos falar como bons companheiros que passaram uma vida no mesmo lugar.ícitas. Amizade dura para sempre, mesmo que eu não tenha medo de que nos afastemos - o que de fato aconteceu. Nos prometemos madrugadas regadas a cerveja mas nem tempo temos mais. O que me alegra é saber que nossos telefones estarão sempre ali. A poucos metros de alcance. E que uma ligação de 6 minutos reavivaria novamente dentro de mim 15 anos da mais pura e inocente felicidade. Nada de medos, nada de traumas. 15 anos que me fazem esquecer tudo de indesejado que me aconteceu.
Você é meu remédio para a cura de histórias sombrias. É o sorriso que solto quando olho para trás e vejo que apesar de tudo, você se fez presente, mesmo que distante, no meu livro de recordações.
Amigo não é aquele que merece ouvir nossos piores traumas e medos.
Amigo é quem, mesmo sem saber, nos protege de todo mal que possa acontecer.