18 maio 2010

Tua estrada.

Ao som de 30:55 - Oláfur Arnalds.

Você tem uma estrada. Um caminho a percorrer. Mas tudo se desenvolve e evolui. Duplicaram esse caminho. E quando você menos espera, tem ali, ao seu lado uma via de mão dupla. Você tem seu destino e uma rota traçada da qual só espera chegar. A ansiedade logo à frente, em mais uma curva. São as mesmas curvas que você está cansado de ver passar, mas que sempre te enchem de esperança, como se depois terias o que tanto esperas: a visão, mesmo que distante, de onde você quer chegar. Mas aí você se lembra que em vias duplas, com a mesma precaução, alguém faz o caminho inverso. Inverso para você. Alguém tem os mesmos desejos, os mesmos objetivos a cumprir, a mesma pressa de chegar. São viagens corriqueiras e sempre em algum ponto da estrada vocês vão se encontrar. Você vai, e vê voltar. Reconhece o carro que te traz tantas lembranças. Intensas. E nesse momento percebe que deveria pegar o próximo retorno, ainda a ponto de seguir aquele carro e ir atrás, seguindo, não sabendo ao certo para onde ele irá te levar. Mas você confia. E por um momento, às vezes sem pensar, acredita que o destino inverso lhe reserva surpresas melhores que o seu. Ainda sem pensar você dirige. A paisagem não lhe faz diferença, seu objetivo é apenas seguir. Ser guiado pelos passos de alguém que assim como você, tem lugar e horário certo para chegar a algum lugar. E você abdica das suas certezas para se contentar com um punhado de agitação, um bocado de curiosidade. Sempre que você segue caminhos, sabes bem o que vai encontrar. O péssimo hábito de seguir. Não para ter ou fazer aquilo que o outro tem ou faz, mas na esperança de ser notado, na esperança de que reconheçam seu propósito de ter mudado sua rota apenas para tentar de novo aquilo do qual você escolheu se distanciar. Você volta, vendo à sua frente a mais bela paisagem já criada por alguém. Esquece tudo pelo que passou no lugar anterior, se prometendo que dessa vez fará tudo diferente. Se prometendo que dessa vez tentará um atalho para surpreender e chegar à frente, ainda a tempo de estender os braços e receber com seu tão ensaiado olhar.
A vida é como uma estrada. E por mais que a conheçamos de cor, todos os seus detalhes, todas as suas peculiaridades, ainda teimamos em nos deixar voltar. Ainda acreditamos que como em um passe de mágica, o simples fato de você ter saído e voltado logo depois justifique um destino diferente daquele que desistiras dias atrás, quando achou que novos ares era o que lhe faria bem. Você acredita que as mesmas pessoas, as mesmas ruas, as mesmas luzes acesas agora estarão diferentes pelo simples fato de que o hoje nunca mais será o ontem. Mas você nunca lembra que o hoje também não será o amanhã. Dúvida: voltar ou ir em frente? Se perder novamente ou aprender a caminhar?