30 agosto 2008

(Não) Chove.

Estava esperando ancioso a chegada da chuva. Ventava. Ele dormiu.
Ao acordar no outro dia se sentiu cansado. Estranho isso. Da noite passada só se lembrava da chegada da caravana de parentes. Uma pessoa a mais na contagem deixava a casa ainda mais "apertadinha", como uma das visitas disse, querendo se passar por simpática. E se lembrava também de ver pela porta entreaberta do quarto pela manhã alguém o observando dormir. Se segurou para não arremessar o travesseiro na porta.
E o tempo variava. Às vezes fazia sol, às vezes nublava. O vento continuava. Pensava na indecisão do tempo, de não saber a que viera, o que lhe traria. Olhou para fora de casa. O sol sumiu e enfim parecia que a chuva viria.
Não veio.
Os parentes retornaram. Que lindo... Foi irônico.
Ele continuava indiferente, sem um pingo de saco para pagar de bom moço e ficar com sorrisos fim de tarde afora. Pegou logo alguns textos da faculdade e passou a resumi-los. Tarefa adiada de terça-feira para hoje. Queria passar uma imagem de pelo menos estudioso, já que sem os textos se tornaria uma estátua.
A bagunça que a turma fez em sua casa não foi nada quando descobriu que seus familiares haviam comprado macarrão, pão, biscoitos e refrigerantes. Ele não levantaria no domingo para fazer "almoço comunidade" nem rezando.
A raiva voltara.
Naquele momento apenas a chuva o acalmaria.
Ele não se acalmou.
Dormiu quando os parentes foram felizes a um casamento.
Acordou e se pôs à frente do computador para escrever.
Digitava seus pensamentos e pensava que amanhã enfim seria o último dia de casa lotada. Teria sua individualidade de volta.
Se acalmou porque sabia profundamente que os próximos dias lhe reservariam uma surpresa. Uma boa surpresa.
A surpresa não seria a chuva. Mas seria como ela.