17 junho 2010

Como cães e gatos.

Ao som de We Have A Map Of The Piano - Múm - Música para embalar relacionamentos com gatos.

Analisando meus animais de estimação, algo interessante me veio à cabeça: eles são como as personalidades das pessoas em seus relacionamentos. Assim, os dividi em duas linhas de pensamento. Os cães e os gatos.
Meu hamster não entrou nisso porque ele se assemelharia mais a um filho, por só comer, dormir e, quando acordado, passar o dia brincando em sua rodinha. Peixes e pintinhos (sim, no interior você ganha pintinhos no dia das crianças na escola) também estão fora porque se você tem mais de 18 anos e ainda cultiva um desses animais, você teve problemas na sua infância.

Relacionamento com "cães"
Todo mundo apóia quando você diz que vai ter um, todo mundo acha uma gracinha e se já não teve, sonha em um dia ter. É o mais fácil de lidar, apesar de que no início pode parecer meio chato. Seja pela alegria em abundância, seja bela bagunça que causa enquanto vocês não se acostumam um com o outro.
Depois você logo percebe que está se relacionando com um cão quando ele faz alguma coisa muito ruim para você. Você briga a primeira vez e ele vem com o rabo entre as pernas e aquela cara safada de que te ama até o fim dos tempos. Basta então você descer um tom da sua voz que ele já abana o rabo e te enche de lambidas.
Mas cão que é cão sempre faz de novo, e de novo, e de novo aquilo que você cansou de discutir com ele. E a cara safada de quem te ama até o fim dos tempos sempre volta, junto com o rabo abanando.
É o que mais te domina, psicologicamente falando. Seja pela cara safada de quem te ama até o fim dos tempos (acredite, ela sempre é recorrente em momentos de brigas e tensões), seja por querer brincar e se divertir com você justo naquele momento que você só quer ficar sozinho em casa.
Um cão sempre vai correr para seus braços (ou suas pernas, a comparação aqui serve para o animal e para os humanos) logo que te ouvir colocando as chaves na fechadura da porta para entrar. Você entra e quase é derrubado por aquele ser que vem do lugar mais inesperado do mundo, correndo e ávido por um abraço.
Se você o chama, no meio do nome lá já estará o ser, riste, em pé, olhando e sorrindo pra você.
Sempre quer passear, sem horários certos, de manhã, início daquela tarde em que você tem que sair corrido de casa pra trabalhar, ou 4 horas da manhã, quando você sem querer menciona que a madrugada tá agradabilíssima.
É o mais fácil de conseguir, todo mundo sempre tem boas recordações e referências de onde encontrar uma espécie. Apesar de preferirem os de raça nobre, todo mundo um dia já teve um bom e velho vira-lata pra chamar de seu.
É o mais difícil de se desgarrar porque vai dar aquele aperto no coração de vê-lo indo embora, com aqueles olhinhos melancólicos e que te transmitem um "eu nunca vou esquecer nossos momentos felizes", mas espera só duas horinhas com um novo dono pra você perceber que nada disso é verdade!

Relacionamento com "gatos"
Todo mundo despreza, diz que é difícil de lidar e que ninguém sabe muito bem como tratar. Com gatos não se tem meio termo: Alguns têm receio por se tratar de um animal muito calado. Outros preferem justamente isso.
Não fala muito, não late toda hora, fica ali no mesmo canto a noite toda demonstrando toda sua "abundante" sentimentalidade com o olhar e com a cabeça virando para o lado e te ignorando na maior cara de pau. Aliás, se tem uma coisa que gatos sabem fazer como ninguém é isso: aquele olhar indiferente e aquele ar de desdém.
Ao contrário dos cães, a adaptação aqui é demorada. Tem toda uma troca de olhares. Você vê uma vez, se interessa e já leva pra casa. De primeira, nada acontece, ele vai olhar todo o ambiente, vai sentar em todos os locais, conhecerá todo o território primeiro. E dará um jeito de ir embora sem te dar tchau.
Mas não se desespere. Dê a ele um dia apenas. Se ele não voltar, ok. Mas se voltar, você ganhou mais que uma companhia. Você ganhou um aliado, um ser que entenderá todos seus gestos e todas as suas atitudes, mesmo sem precisar abrir a boca para te falar isso.
Não gosta de muito contato, não gosta de pegação, não gosta de nenhuma demonstração calorosa de afeto. Quer dizer, gosta sim, mas fará de tudo pra te provar o contrário e não ceder.
Adora dominar as situações. E continua sempre a te ignorar. Mesmo te amando com todas as forças você sabe que corre o risco de chegar em casa e não encontrá-lo, mas que quando você menos espera, ele surge pela janela e passa a demonstrar carinho por você da forma mais sublime possível. Sabe aquela onda de "não sei, mas hoje me deu uma saudade de ficar com você sem falar nada..."? Pois então.
Dormem o dia inteiro. E quando acordam já querem sair para se divertir. SOZINHOS. Ele vai dizer que quer encontrar os amigos da rua (ou os amigos que fez na rua), daquele tempo das madrugadas sem lei. Podem cair na besteira de te trocar por algum desses amigos dele de rua. Mas se você fizer o mesmo e o trocar por algum dos seus amigos de balada, sem discutir ele vai voltar pra você como o ser mais necessitado de carinho do mundo, ronronando "eu te adoro" enquanto caminha pelo seu corpo inerte e indiferente (invertemos as situações) no sofá.
Em algum momento você se verá completamente apaixonado por um gato. Mas terá medo que isso nunca seja tão recíproco quanto você gostaria.
Um dia você vai explodir com isso tudo, com essa falta de demonstração de afeto, com essa mania de sair escondido na calada da noite. Mas você nunca se livrará dele com facilidade. Na hora de botá-lo pra fora, ele não vai sair por conta própria, vai se esconder em algum canto da casa. Se você decidir fazer isso da forma mais definitiva possível, pegando pelo braço, acredite: sairá arranhado, o deixará continuar na sua vida mas vai ficar pelo menos duas horas sem chegar nem perto. Mas depois, vocês dois se olharão e verão que apesar de tudo, se amam mutuamente, cada um do seu jeito.
Segredo: todo gato, por mais esnobe e indiferente que seja, tem o seu ponto fraco. Aquele carinho fofo no cotovelo esquerdo que o desmonta, ou aquele pegar no colo e passar hoooras fazendo cafuné. Em resposta, ouvirá gemidos baixos carregados de prazer.
Não, isso não é uma descrição de orgasmo.

E eu prefiro os gatos. Mil vezes.