26 setembro 2009

A gangorra.

Ao som de The Winner Is - DeVotchKa.

No meu copo de whisky só tem entrado café. Tem sido assim ultimamente. Beber para esquecer é para os fracos. Os fortes sabem que uma vez acontecido, nada apagará o que foi feito. Beber para se encorajar também é coisa de gente sem personalidade que acha que um copo de alguma coisa te liberta de todos os problemas e te traz as soluções. Não serei mentiroso em afirmar que nunca fui forte ou fraco. Sou os dois, em determinados momentos, naqueles onde cada uma dessas situações se encaixavam bem.
Não sei, mas ultimamente me cansei de tudo isso. Ser forte, ser fraco... Essas coisas requerem algum extremo. Não confio em extremos. Prefiro me guardar e ser as duas coisas ao mesmo tempo. Para um forte, vários fracos tentam puxar o tapete. Para os fracos, mil fortes que servem de exemplo inalcançável. Sabendo mediar as duas coisas você passa a ter duas linhas de frente.
Os opostos se atraem, sejam em qualquer ambiente ou situação. Mil fortes falarão agora que não existem benefícios em ser fraco. Sim. Existem. Quando se é fraco você ainda tem escolhas. Só você pode reverter uma situação. E revertendo você percebe o quão forte é. Vários fracos buscam derrubar um forte. Existiria então benefício pleno em ser superior? Superior é aquele que se dá bem com todos, fortes ou fracos. Muitos fortes por aí se enganam em não pensar assim.
Meus olhos dividem a cena em várias. Em cada quadrado uma situação. Pessoas diferentes, fortes, fracas. Todas com possíveis problemas e soluções. E eu aqui, vendo tudo à altura dos meus olhos. Nem acima, nem abaixo. Gente feliz, gente triste... Todas desfilando suas vidas. Agradecem por muito ou reclamam por pouco. Só eu enxergo erros aqui?
Me viro e vou. Dou as costas para essas pessoas que acham que sabem o que é chegar a um extremo. Eu agradeço e reclamo. Agradeço por cada detalhe ou coisa pequena que eu consiga fazer. E reclamo também, por que não? Mas somente quando algo realmente é grandioso para se reclmar. Não sei, mas às vezes me acho diferente. Penso diferente de tudo, sou um pacifista de primeira e sempre vou ver os dois lados da moeda. Por mais que doa falar a verdade quando são as mentiras que muitos querem ouvir.
É como uma gangorra: Forte de verdade é quem se coloca no meio, equilibrando e distribuindo a força necessária para o lado oposto, trazendo um pouco para o chão aquele que voa demais.

18 setembro 2009

Um pai.

Ao som de The Grand Finale - Danny Elfman.

Disse a um amigo que às vezes me sinto como se fosse um pai. Interessante descrever: aquele sentimento de carinho misturado com um pouco de possessividade, aquela coisa de sempre querer o bem, sofrer junto, rir, dizer só com o olhar que por mais que ele tente esconder ou queira desesperadamente mostrar, você sempre irá entender todas as suas atitudes. O sentimento que te faz observar de longe e sorrir consigo mesmo, sabendo que as atitudes dele já foram vividas por você, e que ele, só ele, poderá escolher se fará as mesmas coisas ou mudará o próprio final.
No início o pai deslumbra o filho, tem medo de doenças, de machucados ou brigas com os coleguinhas do jardim de infância. Depois o filho cresce, e aprende a andar com as próprias pernas. Cria suas próprias referências, faz suas próprias escolhas. O pai ali, do lado, se torna coadjuvante por alguns momentos. E o filho cresce. E já superficialmente independente começa a se mostrar como um vencedor para seu pai. E cresce. E passa a te cobrar conselhos, começa a perder o medo de desabafar. E você, como um pai, sempre quis que esse momento chegasse. Mas você sempre quis ser ouvido, até antes, e agora se vê sem nada para falar. Faltam palavras, sobram olhares, sorrisos e compreensões.
Um filho transforma um pai. Eu, que sempre fui orgulhoso e dono de mim, por você aprendi a me moldar. Deixar o orgulho de lado, aceitar quando lhe cabe, se mexer quando é devido e necessário. É saber que agora você também cuida de outra vida, que tem mais alguém para te acompanhar, mesmo que esse alguém não esteja perto. É sentir a saudade de estar longe por míseros dois dias. E eu, que sempre fui orgulhoso e dono de mim, ainda ando me acostumando a me deixar de lado para te agradar.
Ensinar e aprender. Você ensina, você aprende. Desperta em si o espírito da humildade. Conjuga mais o verbo compartilhar. E compartilha tudo, do mesmo copo ao mesmo olhar. E em cada gesto sempre dá um jeito de trazer ou levar ensinamentos, usa cada oportunidade para criar lições de vida, desde as mais simples até aquelas difíceis de aceitar.
Eu e meus sentimentos de pai.
Vai filho, cresce. Você finalmente sabe que eu estarei sempre junto, sempre que você precisar.