23 outubro 2008

Update.

Quando ele diz que sabe que as coisas boas vão aparecer, ele realmente sabe. Situações passavam na sua frente e diziam: "se quiseres que as coisas sejam feitas do seu modo, a hora é agora!"
Mas ele ignorou.
Preferiu voltar para casa.
E assim fez. Nitidamente revoltado pela sua falta de atitudes.
Sorte que essa não seria a primeira e muito menos a última chance de fazer tudo dar certo.

21 outubro 2008

(Continua) chovendo.

E seus dias agora estavam de novo ficando previsíveis. Ele odiava isso. Principalmente quando passava a se sentir meio defeituoso, impossível de virar o jogo caso algo desse errado. Mas ainda lhe restava uma ponta de tranquilidade, o suficiente para fazê-lo relevar qualquer desafeto, o suficiente para que ele erguesse o olhar para os céus e contasse até dez. Sim, pessoas chatas existem, e teimam em aparecer com mais frequência nesses tempos de dias previsíveis.
O fato é que por mais que ele sonhasse com as coisas sendo realizadas do jeito que ele queria, algo o puxava e dizia: "calma, não é bem assim". Foi assim na terça, e tem sido assim desde o domingo. Ele sabe, ele entende suas limitações em períodos como esses. Fazia de tudo para que as coisas terminassem boas para ele. Mesmo que esse tudo significasse alguma limitação. Um tudo que não era tudo. Consegue entender?
Por sorte - ou azar - os amigos o colocavam pra cima e acabavam fazendo ele esquecer da monotonia. Só que ele não sabia se gostava ou odiava isso. Por mais que ele estivesse se sentindo chato, anti-social, ele conseguia perceber que amigos verdadeiros não queriam nem saber de tristeza.
É... E ele sempre acabava pensando como seus amigos.
Continuava a chover. A previsão não era mais a do tempo. Era a previsão de como seriam seus dias. Se chove, ele fica pensativo, extremamente intelectual. Com chuva ele poderia muito bem traçar uma análise complexa sobre a atual conjuntura dos países emergentes diante da crise financeira mundial. Se faz sol ele fica pensativo também. Mas se cansa. E então deixa seus pensamentos de lado e vai ser feliz. Só que com chuva ele também era feliz. Mas era uma felicidade livre de compromissos. Com chuva ele era essencialmente feliz. Pouco se importava com problemas comuns dos que o cercava. Ele era feliz e pronto. Isso só dizia respeito à ele.
O único momento em que o semblante de alegria dava um tempo era na volta para casa. Aquilo era uma tortura. Ele via a chuva caindo lá fora e ria. Uma risada maléfica. Pessoas se molhando e ele rindo. Nem percebia que estava se molhando também. Isso não era problema. Chegava em casa e procurava descansar. Pensar no dia que se seguiria. Será que vai chover de novo?
E de tanto pensar, ele escrevia. E ia se acalmando. Mas algo estranho acontecia toda vez que ele terminava um texto. Achava que tudo o que escrevia não fazia ligação nenhuma. As idéias não se cruzavam. Que divertido!! Seu texto ficava difícil de ser entendido. Sabia que palavras eram traiçoeiras e interpretações erradas poderiam causar uma espécie de pânico nas pessoas. Mas ele não estava nem aí. Era legal ver os outros quebrando a cabeça para decifrar suas colocações.
Procurava deixar dúvidas. Escrevia para ele, era só isso. No fundo, no fundo ele queria ser um pouco grosso com quem não o entendia e com quem queria entender o que não era para ser entendido. Sorte que nenhum chato ou ninguém que ele odiasse lia seus textos. Assim, um único diálogo nunca iria existir:
"- O que você quis dizer com aquilo?
- Se não entendeu, o problema é seu!
"

12 outubro 2008

Dèjá vu.

"Está frio, mas não faz frio", pensou. Era verdade. Ele sentia frio sem necessidade nenhuma. Era uma sensação feliz, que vez ou outra ele gostava de ter. Estava sentindo essa sensação desde a tarde, quando no céu uma chuva ameaçou cair e o vento entrou pela porta da sua casa. Então ele saiu, foi dar uma volta sem rumo, pegar um pouco de ar. Estava precisando disso. Há dias não sabia o que era andar na rua, sem pressa, observando as pessoas em suas casas, em suas rotinas, ouvindo o som do vento que lhe soprava no rosto.
Quando se deu conta já estava em casa, deitado no sofá. Sozinho. Não que ele não tinha percebido o passar do tempo, mas nada de suficientemente importante aconteceu do fim de tarde até então. O vento de novo entrou pela porta. Ele sentiu saudades. Ia fazer um ano desde que sua vida começara a mudar em todos os aspectos. "Um ano!", repetiu algumas vezes em voz alta.
Uma música invadiu sua cabeça. Ela se repetia e ele não se cansava de prestar atenção na sua melodia, ecoada, com gosto de dever cumprido misturada com agonia. Sinestesia era o seu negócio mais produtivo. Agora seus pensamentos mudavam de direção. E a música também acompanhou a mudança. Cantava para si mesmo, intimamente, uma música que só sabia o nome, mas que tinha marcado uma época que ele gostaria de viver de novo.
Os pensamentos lhe diziam que ele estava no caminho certo: Estava fazendo o que devia ser feito, estava agindo como deveria agir. A razão por sua vez lhe pedia para ser cauteloso. Só que ele não estava arriscando nada para ter um motivo que lhe exigisse essa cautela. Ele apenas estava se deixando levar pelas emoções. Mas preferiu acreditar mais uma vez na sua intuição: ainda tem muita coisa por vir e ele não perde por esperar.
O céu lhe dizia através de dias chuvosos que coisas excelentes se aproximam, e que ele nada deve fazer. Ele deve apenas ser ele mesmo. Agir como ele mesmo agiria. Para que algumas pessoas insistem em ser o que não são só para parecerem melhores? Ele era louco, sensato, falava coisas erradas justamente quando não podia mas era feliz assim. Ele nunca deixaria de ser quem era só porque certas pessoas o reprimiriam. Ele gostava de ser ele mesmo e sabia que existiam pessoas que sentiam orgulho por ele ser assim.
Com isso ele sorriu. E gargalhou logo depois. Conseguiu soltar baixinho um "que se danem". Foi procurar na internet a letra da música do tempo que ele gostaria de viver de novo. Acompanhou a tradução e achou que estava tendo um dèjá vu:
"Não se importe com o que os outros dizem, apenas siga seu próprio caminho.
Não desista e use a chance para retornar à inocência.
Esse não é o começo do fim. Esse é o retorno a você mesmo."