15 outubro 2010

Sobre estas e todas as coisas.

Ao som de Mark's Song - Eastmountainsouth.

Crises. O que são crises para você? Me acostumei com as minhas. São crises de nostalgia, nada mais. Me ponho a pensar sobre estas e todas as coisas: quantas vezes eu já passei tentando explicá-las para quem eu achava que as entenderiam? Ninguém é capaz de entender. Ninguém entenderia a intensidade destas nostalgias. Não as minhas. Não é fácil explicar, não é fácil descrever em palavras momentos desimportantes de dez, quinze anos atrás, mas que agora ganham uma importância inenarrável para mim.
Quem um dia chegou mais perto de entender me disse que isso é a fuga que eu tenho. Meu porto seguro e acolhedor, onde eu sempre volto quando sinto falta de silêncio e paz. Não. Há quatro meses eu não estava em crise. Isso explica eu ter estado tão fora de mim. Nunca sou tão sensato quanto em crises nostálgicas. Nunca tenho tanto foco quanto em momentos assim. É resultado da inocência velada. Existe ainda uma criança dentro de mim. A que ouviu atentamente o pai explicar o porquê da lua cheia estar tão grande naquela noite em Goiânia, quando eu ainda nem sonhava em morar aqui. Aquela criança que olhava para o céu e se maravilhava com os telhados das casas antigas, as árvores e os papagaios de um final de tarde no interior. A criança que até hoje sente o calor do fogão à lenha da casa da avó.
Nas minhas crises nostálgicas essa criança ganha ares e sai de mim. Fica ao meu lado, transmitindo em pensamentos o que eu devo e preciso ouvir, o que eu quero fazer mas que não posso. É um Gabriel de sete, dez anos que sabia mais do que eu pudesse imaginar. Sopros adultos naquela inocência ignorada que torcia para o tempo passar mais devagar. O tempo, como estamos cansados de saber, não para. Mas o que fica preso e vez ou outra escapa é justamente esta nostalgia que ganha espaço em momentos como este.
De fato é meu porto seguro e certamente sempre será. Passei anos lutando por bons amigos e os encontrei finalmente. Mas agora somos adultos e toda essa coisa de responsabilidades ou obrigações por vezes nos deixam incomunicáveis. Daí o refúgio, daí a nostalgia: o Gabriel de sete, dez anos sempre estará disponível, basta chamar. Basta encontrar no céu o mesmo céu do interior. Basta a lua, cheia ou não. Basta o frio e o desejo de ter o calor da lenha que queima lentamente.
Deixe-me apresentar o Gabriel de sete, dez anos. Ele veio passar uma temporada comigo e não sabe ao certo quando irá voltar.