tag:blogger.com,1999:blog-76103335324749622852024-03-06T06:07:41.164-03:00gablogaboGabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.comBlogger45125tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-24146531039892498122012-09-01T00:24:00.004-03:002012-09-01T00:27:11.892-03:00Caminhos<i>Ao som de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=sBubnbNFyW0" target="_blank">Varðeldur - Sigur Rós</a>.</i><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ele estava com a cabeça a mil. Era um turbilhão de sensações que ele estava descobrindo nos últimos dias. Fez aniversário e envelheceu dez anos em experiências. Começou com ciúmes, passou para amor. Transformou-se em afeto e um pouco de indiferença. Agora era ira. Ele que dias antes estava nos pés de uma montanha se via agora a poucos passos do topo. Cansaço e dores se tornaram tão recorrentes que ele nem se dava ao trabalho de senti-los. Eles haviam se transformado em companheiros de jornada, com os quais dividiam interesses e compartilhavam histórias. Viraram grandes amigos e não sabiam mais se separar, mesmo que no topo, depois de um longo e demorado abraço, aquela sensação de voltar e seguir cada um a sua vida tomasse conta do seu coração. Para ele não importava. O desejo era chegar no topo e ficar horas observando a vista. Ou não mais. Na verdade neste momento o desejo dele era apenas ter estabilidade. Aquele vento forte que tanto o instigava agora passava a te desafiar, empurrando-o para fora do seu caminho. Aquele vento forte tornou-se o principal inimigo de quem conseguia se equilibrar em qualquer lugar. Mas à medida em que o vento soprava, seus pés alçavam mais alguns milímetros rumo à consagração. E a bandeira amarrada na mochila tremulava, como se isso significasse um riso irônico de quem sabe que por mais que o corpo demonstre fraqueza, a cabeça ainda sabe ser forte. Mas as ironias que ele sempre via eram uma armadura, uma espécie de demonstração de uma força que não existia mais. Agora faltava oxigênio. Nas alturas, a respiração passou a ser forçada e náuseas invadiam seu corpo. Vomitou. Apoiou a palma das mãos nos joelhos e reconsiderou sua jornada. A dor e o cansaço calaram-se em respeito e ele pode pensar. Talvez o último pensamento são antes que os próximos passos tomassem sua lucidez. Apoiado em uma bengala feita com um pedaço de algum galho seco, ele foi cravando cada novo centímetro. O vento se fazia mais forte e, mesmo sem saber como, ele também se fazia assim. Desafios o levavam além. O sol sobre sua cabeça já não se fazia mais tão quente e as cores douradas da paisagem serviam apenas como fotografia para seus olhos cansados. A essa altura, uma nova companhia havia surgido: ossos de algum aventureiro que por forças do destino não conseguiu completar aquele desafio o hipnotizaram. Não por medo, mas por fascínio. Ele então se deu conta que aquele caminho não era só seu. Muitos outros o fizeram e alguns ainda o farão. Alguns com sucesso, outros como o amigo aventureiro que agora fazia parte da paisagem. Parou, orou e agradeceu pela bênção de ainda conseguir se mover. Prometeu a si mesmo que concluiria seu destino em homenagem àqueles que não tiveram a mesma sorte. Para ele eram agora três passos. Três passos que demoraram algumas horas para serem trilhados. Acima dele, apenas o céu. Havia chegado no local onde fincaria a bandeira e deixaria sua marca, algo que nunca antes ele havia feito. Ele riu. Riu enquanto seus olhos teimavam em chorar. Mais uma vez as mãos tocaram os joelhos e ele sucumbiu. Caiu anestesiado no topo onde as duras pedras agora eram mais macias que penas. Ou nuvens. Literalmente no céu. Sentou-se e olhou para baixo. Reconheceu seu esforço e viu uma trilha de histórias vividas por ele durante o caminho. Nada mais importava. Os desafios da volta começavam a lhe preocupar, mas ele não se importava mais. Havia chegado ao ápice daquilo que muitos escaladores acreditavam ser o olhar ao seu interior. E isso já lhe bastava. Entendia de fato que não existe razão ou resposta certa para aquilo que ele procurava. Existiam trilhas e trilhas de possibilidades que ele ainda teria que explorar.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-89802955464391614222012-08-10T17:23:00.000-03:002012-08-10T17:23:10.379-03:00A vida em preto e brancoEntão eu sou uma torre. Ali, parada no quadrado negro de um grande tabuleiro de xadrez, vendo tudo, observando todos os movimentos à minha volta.<div>
Sofri com a perda de peões. Sofrerei com a perda de <b>meu rei</b>, mesmo sabendo que o sacrifício será necessário para o andamento do jogo, antes mesmo de <b>meu rei</b> tombar.<br />Oportunidade de lances com incrível vista para os desdobramentos desse jogo que a vida é.<br />Preço a se pagar? O que for necessário.<br /><br /><i>- Cheque!<br />- … </i></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-75239332150594043692011-03-20T05:36:00.000-03:002011-12-15T21:39:02.224-02:00Desligo.<div style="text-align: justify;">
Você não é apaixonante. Não é apaixonado. Você também não é tão forte quanto diz. Você não precisa se mostrar, ou muito menos se esconder. Você passou toda uma vida tentando encontrar uma resposta para seus sentimentos, sempre desconectados, sempre tão avulsos e incompreensíveis. <br />
<a name='more'></a>Você já foi chamado de fofo, seco, já te disseram que tens um coração enorme e já te perguntaram o por que de toda essa reclusão emocional. Você é tudo que sempre disseram, mas para você, isso não chega nem à borda do que existe na sua cabeça. Você ri sozinho, quando deveria fazer isso em meio às pessoas que gosta. Você chora em locais públicos, quando é no chão do seu quarto que as lágrimas devem cair. E olhando agora para você, reconheço anos de tombos e tropeços. Você sempre deu um jeito de se levantar, mas sempre caía de novo. Porque é no chão que as coisas se mostram mais reais.</div>
<div style="text-align: justify;">
Só que você se desligou. Tens ainda energia de sobra, mas não aquela que você queria ter. E finalmente você se viu em stand by. Você entrou em hibernação. Nesse hiato, você se permitiu dar um passo adiante. Maior que suas pernas, já que desligado ninguém pode te acompanhar, ninguém pode te seguir ou ver o que se passa na sua vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vamos falar desse passo maior que suas pernas... Está satisfeito? Imaginei. Você nunca se satisfez. Você se cansa fácil e talvez seja isso que você precisa reverter. Continue desligado. Às vezes a vida trava e é preciso se desconectar da tomada para que tudo se encaixe novamente e volte ao seu funcionamento normal. Às vezes é preciso não mandar nenhum sinal. Mas saiba que em algum momento você irá se religar. E precisará decidir logo depois todas as contradições do seu sistema interior.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-62727728427143111842011-03-05T02:49:00.002-03:002012-09-01T00:32:51.050-03:00Me espera.<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=s44uFI8AD0U" style="font-style: italic;" target="_blank">Bachiana Brasileira n°4 (prelúdio) - Heitor Villa-Lobos</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;"> </span></span><br />
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Girar a chave na fechadura era o que ele esperara por todo o dia. Tinha sido uma sexta-feira carregada, daquelas que sugam todas as nossas energias e nos deixam sem ânimo para sequer conversar. Ele não conversava, não era de ter amigos. Não tinha ninguém para descarregar seus problemas. Era ele, e só. No apartamento, o relógio da sala marcava nove horas e trinta e sete minutos. Abriu a porta de vidro da sacada e sentiu o vento lhe soprar os fios de cabelo enquanto ao mesmo tempo fazia a cortina tremular. Naquele exato momento, seu gato se entrelaçava por suas pernas. Abaixou e afagou lhe a cabeça por um instante. Enquanto caminhava para a cozinha, ia tirando a gravata e desabotoando os botões superiores da camisa branca. Encheu um copo com um pouco de whisky e algumas poucas pedras de gelo. Para ele, era o suficiente. Completando seu ritual de desintoxicação psicológica, se dirigiu até seu aparelho de som. Villa-Lobos. "Bachiana Brasileira nº 4" começou então a tocar. Ele sabia do que precisava. Colocou a música para se repetir e se dirigiu novamente à sacada.<br />
Ali estava ele. Um homem na altura dos seus vinte e oito anos, com um bom emprego que lhe sugava as energias em boa parte do tempo. Pensou em quando desejou fazer de tudo na vida e decidiu optar por aquilo. Curioso é que naquela época ele se imaginava exatamente como estava vivendo agora. Deu um pequeno gole na sua bebida, depois outro. Olhou para os prédios à sua frente, as luzes coloridas se casavam perfeitamente com o som da cidade, as buzinas, os rugidos da metrópole e os sopros persistentes do vento.<br />
Ele sempre soube que era alguém sozinho. Sempre se sentiu assim. E aprendeu a lidar com isso, na medida do possível, depois de longos anos entre erros e mais erros em relacionamentos nunca consumados. Como justificativa mais plausível, apresentava a ele mesmo seu eu possessivo e passional. Sabia que por mais fechado que fosse, não suportaria um relacionamento e tudo que essa palavra pudesse representar.<br />
Sempre teve um gosto relativamente estranho na escolha de suas paixões. Abdicava facilmente de qualquer beleza por um punhado de intelectualidade mesclado com uma essência completamente pura de quem se permite sonhar. Se apaixonava por vozes, pela forma de escrever de qualquer pessoa. Era obcecado por detalhes. E era completamente possessivo em relação a gostar de alguém. Se entrasse em algum relacionamento, ele com certeza sofreria, mas faria o outro sofrer muito mais. E isso, ele não queria. Era um defeito seu que ele não gostaria que ninguém soubesse.<br />
Olhava novamente para as luzes da cidade enquanto dava mais um gole na sua dose de whisky. Pôs a mão instintivamente no seu bolso esquerdo e de lá tirou um maço de cigarros um pouco amassado. Em posse de um, o acendeu e começou a pensar. O gato agora estava ao seu lado, em cima da mureta da sacada. Eram os dois ali. Tão diferentes, mas tão iguais em alma... Tão solitários. Tinham apenas um ao outro. Ambos não faziam nenhum som, mas se comunicavam tão bem...<br />
O homem foi até a cozinha, agora para buscar a garrafa de whisky e trazê-la até a sacada. Ao voltar, entrou em transe. Começou a relembrar sua infância, seus sonhos, seus anseios. Se viu novamente naquele patamar onde ele sempre sonhou estar. Mas faltava-lhe algo: uma companhia. Uma companhia de verdade. De fato, por anos ele descontou em um gato a ausência de um ser humano. Seus amigos todos tinham dado rumo às suas vidas, nenhum deles estava mais ao seu alcance e ele não podia fazer nada em relação a isso. Não gostava de telefonemas, não tinha tempo para escrever cartas ou e-mails. Foi quando se viu, pela primeira vez, com a necessidade de ter alguém com quem pudesse compartilhar todas as suas alegrias, todas as suas angústias. Seus medos, suas vitórias. Alguém para dividir a mesa no café da manhã. E a cidade ali, à sua frente, agora lhe apresentava "n" possibilidades de encontros. "N" pessoas com quem ele poderia tentar se relacionar. "Me espera?", foi o que ele conseguiu dizer.<br />
Àquela altura da madrugada ninguém ouviria seus lamentos. Era a hora errada para ele ter um rompante de certeza como aquele. Ele agora se sentia incomodado com o fato de estar só. Encheu mais uma vez seu copo e acendeu outro cigarro. Pegou seu celular e passeou pelos contatos salvos na agenda. Parou em um. Ligava ou não? Se declarava ou esquecia tudo aquilo. Ele se sentia como se estivesse caindo mais uma vez no mesmo buraco. Já havia se declarado uma vez e não tinha boas lembranças disso.<br />
Resolveu ligar. Caiu na caixa postal. Ele então deixou o seguinte recado, que foram os segundos de maior sinceridade que ele havia tido até então:<br />
"Ei... Me desculpe por te ligar a essa hora. Mas estou apaixonado por você. Estou um pouco bêbado, o que me deu coragem para te dizer isso. Não estou pedindo nada em troca. E nem quero te assustar com esse rompante de sinceridade que estou tendo nesse momento. Justo eu, um homem de vinte e oito anos... Passei a minha vida toda fugindo de relacionamentos, hoje todos os meus amigos estão longe e não tenho ninguém com quem compartilhar minhas dúvidas ou conquistas. Enfim. Nem sei por que estou lhe dizendo isso. Boa noite. Durma bem."<br />
Desligou o telefone e se sentiu a pessoa mais horrível do mundo. Decidiu ir ao banheiro. No meio do caminho seu telefone tocou. E incrivelmente do outro lado da linha uma voz sonolenta lhe disse algo que lhe fez sorrir como nunca havia sorrido antes:<br />
<br />
"Oi. Você está aí? Posso confessar que também sinto o mesmo que você? Você está acordado, né? Olha... Eu não sei se o que eu estou fazendo é certo, mas... Eu perdi o sono e decidi sair de casa. Estou passando aí. Me espera? Acho que temos muito o que conversar..."</div>
Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-84861747756705422202011-01-31T03:12:00.003-02:002012-01-03T22:53:53.058-02:00Caça ao Tesouro<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=_3q9gFqMN3M" style="font-style: italic;" target="_blank">Mis Mejores Recuerdos - Diego Fontecilla</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;"><br />
</span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
Existem muitos segredos que não gostamos de comentar. Um deles tem mexido muito comigo ultimamente e mais uma vez gira em torno do meu passado e da minha memória sempre tão nostálgica. Neste momento existe uma trama dentro da minha cabeça que interliga lembranças, desejos, sensações. Uma trama que resolveu brincar de "caça ao tesouro" me entregando partes de um mapa. Tenho decifrado essas partes todas as noites, durante recorrentes sonhos; todos os dias, enquanto relembro histórias que estavam escondidas a cerca de 18 anos atrás. Talvez ninguém consiga entender o que estou sentindo agora. O peito apertado tem machucado meu coração. Justamente esse coração que sempre chamaram de forte. Nunca fui de chorar, mas dentro de mim estou morrendo em soluços. Juntei as peças do mapa e agora criei minha própria estratégia para resgatar um prêmio que ainda não sei ao certo qual é.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sou do interior, apesar de ter parte da família morando em Goiânia. Isso me permitiu ter visitado esta cidade algumas vezes na minha infância. Minha memória recorda apenas detalhes: eu e meus pais sendo recebidos pelos tios na rodoviária, o nascer do sol daquela manhã visto do mezanino do prédio, minha blusa de frio de listras coloridas. Eu tinha apenas 5 anos. De volta a Mineiros alguns poucos anos mais tarde, com lembranças mais vivas, me recordo das inúmeras vezes em que retornei a Goiânia por conta de problemas de saúde da minha avó. Nenhuma dessas viagens se tornou marcante, mas os detalhes pipocam. Me lembro de segurar na mão do meu pai enquanto ele atravessava a avenida Tocantins para me comprar chicletes. Me lembro de sair da clínica com meu pai e minha avó para irmos almoçar do outro lado da rua. Me lembro da casa das primas onde minha vó sempre se hospedava enquanto estava passando pelo seu tratamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tinha medo de Goiânia nessa época, já com meus 8 anos de idade. Tinha medo porque apesar das inúmeras vezes que vinha para cá, não sabia nada daqui. Não conhecia ruas, lugares, me sentia perdido entre tantos prédios, carros, pessoas. Lembro que isso me irritava, porque meu pai sabia exatamente cada rua que deveria pegar. Queria ser como ele e não conseguia. Hoje, 14 anos depois, a cidade que me engolia agora é engolida por mim. Papeis se inverteram e meu pai precisa de mim para conseguir andar pelas ruas daqui. Goiânia não me assusta mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então paro para me lembrar de que nunca pensei em morar aqui. Vim para fazer faculdade. Eu, o último filho a concluir o ensino superior. Recordo da minha avó dizendo que o sonho dela era formar um dos dois únicos netos. Ela formou o primeiro e se foi. E não que eu me revolte agora, mas ela não conseguiu me esperar. Justo eu, que vim pra cidade que ela tanto adorava. E, caminhando hoje pelos mesmos lugares que passei na infância, me pego pensando em quão mágico seria poder caminhar junto com ela, revivendo junto com ela seus mesmos passos aqui. Não posso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Me pego redescobrindo lugares. Me emocionei quando voltava da faculdade e o ônibus parou em um dos cruzamentos da avenida Tocantins. Olhei para o lado e reconheci o bar onde meu pai comprou os chicletes para mim. Ele continua lá e, apesar dos anos e das mudanças, consigo sentir seu interior. No fim do ano passado perguntei ao meu pai qual o endereço da clínica onde minha avó fazia seu tratamento. E me assustei porque durante meu estágio, passava pelo mesmo local todos os dias. A clínica e as lembranças estavam ali, era só virar uma esquina.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há dois dias venho sonhando com minha avó. Sinto tanta falta dela, sinto falta do seu ar de "dondoca" enquanto caminhava em Goiânia e fazia suas compras. Nos sonhos ela revivia comigo, andava comigo pelos mesmos lugares por onde passamos juntos quando eu era criança. Eu pergunto "vó, lembra daqui" e vejo nos seus olhos a alegria de reviver tudo aquilo, apesar do seu sofrimento não revelado nunca. Como disse, ela adorava Goiânia e tratamento algum tiraria esses bons momentos dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
Subitamente minha memória me leva para o dia em que ela se foi. Eu ainda morava em Mineiros. Lembro de ser forte, de resistir e ligar para os parentes daqui de Goiânia. Lembro de me irritar em seu velório por conta de gente desrespeitosa contando piadas lá fora. Lembro de voltar pra casa e trocar de roupa antes do seu enterro.</div>
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Como disse, choro em raros momentos. E esse dia foi o que eu mais chorei. Ver meu avô, fraco pelo Alzheimer, se despedir da "sua velha" e botar os óculos escuros bem femininos que foram dela enquanto fechavam seu caixão me desmontou por dentro e eu consegui me segurar. Enquanto, no cemitério, desciam seu caixão, percebi que nunca mais teria a companhia daquela vozinha linda, baixinha, que por anos cuidou de mim enquanto meus pais trabalhavam. Lembro também da minha mãe preocupada porque nunca tinha me visto chorar tanto. Minha mãe estava perdida. A mais emotiva numa família composta por ela e mais três homens vendo esses três homens chorando como bebês. Meu pai, filho dessa minha avó chorando muito, como eu jamais tinha visto. Meu irmão chorando muito. Eu soluçando, pedindo praquela dor parar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um ano depois de sua morte me mudei para cá e só agora descobri que vivia aqui há 16 anos atrás, mesmo que em poucos momentos. Os sonhos com minha avó despertaram em mim aspectos que eu não conhecia, me fizeram sentir frágil, bastante enfraquecido, e cheguei a conclusão que essa tal "caça ao tesouro" me dará força para abrir esse baú. Juntei todas as peças e só então me lembrei de um dia em que, aqui em Goiânia, minha vó havia perguntado qual meu tipo sanguíneo. Ela tinha uma deficiência no sangue e precisava de transfusões a cada quatro meses. Quando disse qual era, lembro que ela riu e disse que era o mesmo que o meu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, onde quer que você esteja, seja por qual motivo for, interpretei meus sonhos com você. Tínhamos o mesmo tipo sanguíneo e nunca percebi que hoje, se você ainda estivesse viva, poderia eu ser o seu doador particular. Sei que não há mais tempo para isso. Você se foi. Mas eu não. A sua clínica ainda continua lá e precisa de doadores. Não posso mais te ajudar, mas ainda existem inúmeras pessoas nesse mundo com seu mesmo problema, que precisam de ajuda. Quero poder fazer a minha parte. Quero doar meu sangue em gratidão a você. Quero reviver nossa história indo ao mesmo centro clínico apenas para doar o sangue que nunca pude te dar. É uma atitude louvável e bonita. Mas para mim é mais que isso. Significa finalmente que conectei todas as minhas lembranças em um ponto só.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-40836138414968521812011-01-28T04:05:00.002-02:002011-01-28T05:47:29.670-02:00ÉbrioE mais uma vez eu estou bêbado na madrugada. Me permiti escrever, porque bem sei que minha sinceridade é aflorada facilmente por uma latinha de cerveja. E nem venha me dizer que é vergonhoso precisar beber pra poder falar certas coisas. Vamos largar de hipocrisia? Sim, existem os bêbados chatos que lamentam e falam pra cacete. Mas hoje, agora, eu estou bem longe de ser um.<br />
Há dias venho pensando em minha vida, e em quanto tempo perdi vivendo certas ilusões que eu mesmo criei. Não adianta. Sempre vou lembrar de junho de 2010 como o mês da perturbação. Aquele e-mail enviado não sai da minha cabeça. Só eu sei o quanto me arrependo de ter escrito e enviado aquilo no impulso. Isso sim é covardia, não beber e escrever coisas que vêm à cabeça pela simples ilusão de que isso vai te fazer melhor.<br />
Se tirei uma lição disso, posso compartilhá-la com vocês. Não podemos nos prender em ilusões, muito menos em coisas fixas, coisas aquelas que adoramos incorporar no nosso dia-a-dia. Isso nos limita pra caralho e limitações são uma merda. Viver sem preocupações é algo incrivelmente prazeroso.<br />
Sem preocupações, como agora, embalado por latinhas de cerveja sacanas. Eu diria “eu te amo” para uns 17 amigos, eu beijaria umas 5 bocas, uma atrás da outra. Faria sexo com duas pessoas ao mesmo tempo. Sem chegarmos a tal extremo, eu também abriria meu coração para falar que, sim, me apaixonei umas boas duas vezes que me lembro. E achei que estava caminhando para mais uma história viciosa de amor não correspondido por alguém que eu conheço há meses e que troco frases escritas via MSN praticamente todos os dias. Eu achei que estava me perdendo de novo. Mas não. Deixei de dar importância e nada se alimenta com a ausência dela. Desculpe. isso não é mais meu departamento.<br />
Gente. Bebam quando quiserem, bebam mais que isso. Se divirtam, joguem o jogo como se ele fosse apenas um simples jogo de tabuleiro, daqueles que a gente pode se irritar, desmontar e jogar de novo, até criarmos nossa melhor tática para a vitória. Adoro escrever essas coisas, meio clichês, meio autocríticas… Adoro tentar bancar o letrado e escrever coisas maravilhosas que poderiam bem ilustrar páginas de agendas de adolescentes que acham tudo bonito. Mas não é só isso. Não posso me culpar por me expressar melhor com palavras.<br />
E mesmo bêbado, mesmo sobre efeito de álcool, mesmo depois de linhas de textos, volto ao ponto desse meu rompante de “escritor”. Não perca seu tempo com coisas inexpressivas. Mande um “foda-se” para si mesmo e se permita errar. Sem vergonhas, sem medos. Não se leve a sério. Não somos tão sérios assim.<br />
Justamente por não sabermos o que nos irá acontecer amanhã, devemos viver um dia de cada vez. Sem planejamentos. E justo eu, que sempre planejei minunciosamente meus atos, pela primeira vez estou percebendo que um bocado de incerteza não faz mal a ninguém.<br />
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<i>(Ao som de Oláfur Arnalds)</i>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-2281524236919718152011-01-25T03:49:00.000-02:002011-01-25T03:49:43.762-02:0015 anos.Longe de mim ter tido uma infância calma. Só eu posso medir tudo o que me aconteceu 15 anos atrás. São aquelas coisas que contamos para poucos, escolhidos a dedo. E se eu parar para pensar, terei uma resposta simples e nítida: amigos não são medidos pelo grau de confiança. Amigo não é aquele que merece ouvir nossos piores traumas e medos. Se eu parar e olhar para trás, terei isso certo em minha cabeça. Há 15 anos o que conheço hoje como vida estava sendo montada. Meus medos, meus traumas. Tudo o que sou hoje, marcado em uma década e meia. Cansei de me esconder em mim mesmo, cansei de me imaginar vítima por algo que certamente me fez, mesmo que amedrontado, tentar criar coragem para chegar até a beirada e me permitir pular, para morrer e renascer de novo, deixar preso em um passado as correntes que atavam meus pés.<br />
Coincidentemente, há 15 anos comecei uma amizade. Daquelas surpreendentes. Surpreendentes por dois motivos: primeiro, porque uma amizade infantil tem grandes chances de não resistir ao tempo; segundo, porque só agora percebi que quando resistem, se tornam únicas.<br />
Você não é meu melhor amigo, de fato nunca foi, mas trilhamos caminhos diferentes sem que não pudéssemos nos ver pela estrada. Você agora é pai e eu me vejo preso em vícios modernos. Se fosse descrever nossa vida em 15 anos, intensidade não seria nunca a primeira palavra que eu iria pensar. Mas 15 anos depois você ainda me surpreende e me faz ver que mais importante que demonstrar amizade, é saber proteger. É ter instinto e reconhecer nos meus olhos que o que vivemos não foi uma espécie de irmandade, mas diálogos mudos, que falam mais pelos gestos e olhar.<br />
Você foi o único que pulou na frente dos meus amigos e me deu um sermão calmo enquanto eu tentava provar ao mundo que eu era alguém. Você colocou duas cadeiras afastadas do resto do pessoal, uma de frente para outra. Me pediu para sentar. Você sabia que o que eu estava fazendo era errado, você nunca se permitiria continuar uma amizade com alguém que fizera o que eu havia feito. Mas você, justo você, justo quem eu menos esperava, sentou na minha frente e abriu o coração. Você só falou o que pensava. “Gabriel, eu não gosto disso, eu acho isso horrível e não sei por que você precisa disso. Eu não posso escolher por você, mas queria que você soubesse que eu não acho isso certo”. Na verdade suas palavras são vagas na minha mente. Sua expressão facial não. E disso eu nunca vou esquecer.<br />
Toda a história dos meus últimos 15 anos me passou pela cabeça ontem, quando inesperadamente atendi sua ligação. A parte boa desses 15 anos retornou aos meus olhos. Falamos pouco, 6 minutos. Mas foram os minutos mais aconchegantes da minha vida. Me senti em casa, me senti na sua casa. Me senti em outro lugar.<br />
Ainda tenho fotos do colégio, em 1995, e é engraçado te ver ali, em turma separada, mas na mesma foto de recordação. É engraçado também porque te conheço desde que éramos crianças. Mudamos muito. Mas é bom saber que ainda temos nossos telefones, e podemos nos falar como bons companheiros que passaram uma vida no mesmo lugar.ícitas. Amizade dura para sempre, mesmo que eu não tenha medo de que nos afastemos - o que de fato aconteceu. Nos prometemos madrugadas regadas a cerveja mas nem tempo temos mais. O que me alegra é saber que nossos telefones estarão sempre ali. A poucos metros de alcance. E que uma ligação de 6 minutos reavivaria novamente dentro de mim 15 anos da mais pura e inocente felicidade. Nada de medos, nada de traumas. 15 anos que me fazem esquecer tudo de indesejado que me aconteceu.<br />
Você é meu remédio para a cura de histórias sombrias. É o sorriso que solto quando olho para trás e vejo que apesar de tudo, você se fez presente, mesmo que distante, no meu livro de recordações.<br />
Amigo não é aquele que merece ouvir nossos piores traumas e medos.<br />
Amigo é quem, mesmo sem saber, nos protege de todo mal que possa acontecer.Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-5723112598005740912011-01-23T05:10:00.002-02:002011-01-23T05:22:27.565-02:00Mãos geladas.Na mesma rua.<br />
Em casa diferente:<br />
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- Minhas mãos estão geladas. Não sei mais o que fazer.<br />
- Você sabe, só não gosta de admitir. Veja como você viveu nesses últimos meses, nesse último ano. Realmente é necessário perder tempo correndo atrás de uma mesma história? Você está deixando passar as mais valiosas oportunidades pra seguir um bocado de emoções. Justo você, que nunca as demonstrou direito. Te conheço como poucos. Eu sou você. Sei o que é melhor, o que é pior. Sofro junto, me animo quando você se anima. Mas o que está acontecendo? Cadê aquela força de quando tudo isso começou?Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-63804968556919349012010-12-16T20:45:00.003-02:002010-12-16T20:53:02.135-02:00Qual sua série favorita?<div style="text-align: justify;">Minha vida segue ciclos - ou temporadas - como você preferir. E desde que me entendo por gente brincava que tudo o que eu vivia eram histórias contadas dentro de um grande seriado. Confesso que quando criança eu brincava de fazer as aberturas desse seriado, colocava o nome dos meus amigos, em ordem de importância na trama, junto com o meu. E no passar desses anos, muitos nomes saíram, outros entraram, alguns permaneceram por longos anos, alguns voltavam mais tarde...</div><div style="text-align: justify;">Sempre imaginei demais, sempre gostei de contar histórias na minha cabeça. E num ato um pouco egoísta, usei as histórias desses meus amigos no meu drama pessoal, porque, paradoxalmente, esse egoísmo se transformava em uma vontade imensa de compartilhar minha história e as histórias deles em um mesmo lugar. Foi assim quando aquela paixão platônica se transformou na melhor amiga, e que contava suas paixões platônicas pra mim episódios depois. Foi assim quando meu amigo me ligou chorando contando ser gay e que não queria perder minha amizade, que precisava dela agora mais do que nunca. Quando esse amigo gay me chamou na sua casa para me mostrar fitas contendo todas as gravações telefônicas das nossas conversas. Foi assim que superamos junto o preconceito dos seus pais. Foi assim quando pegamos essas fitas, fomos para um lugar afastado da cidade e as queimamos.</div><div style="text-align: justify;">Minhas histórias eram compartilhadas com as dos meus amigos quando saíamos para uma noite de bebedeira e comemorávamos internamente as conquistas amorosas uns dos outros, quando sorríamos depois de uma noite repleta de aventura, regada com acidente de carro do pai do amigo, da nossa história para esconder esse acidente, da nossa história para os policiais que indagavam o que quatro pessoas faziam dentro de um carro madrugada afora naquela praça, do nosso medo de deixar a amiga em casa porque do outro lado da rua tinha um doido dormindo com uma faca, do nosso medo aumentando porque decidimos sair rápido mas não contávamos com a falha do carro justamente quando o louco acordou.</div><div style="text-align: justify;">Nossas histórias compartilhadas, como os amigos deitados na grama depois de um dia de banho na piscina, com planos para o futuro. Os planos do amigo que queria embebedar um rapaz para poder finalmente lhe dar o tão sonhado beijo. As ideias e a elaboração daquele blog de fofocas do colégio, os medos, as dúvidas, as escolhas - apoiadas ou não. As nossas vidas.</div><div style="text-align: justify;">Minha vida é um seriado de drama, de humor, suspense. Foi um seriado adolescente, jovem, é um seriado adulto que toca em assuntos sérios como vícios e gravidez. Questiona os preconceitos, brinca com eles, se diverte com a diversidade de histórias e lembranças de um grupo sempre mutável de personagens que sequer imaginam que suas experiências são guardadas e contadas por mim, para mim mesmo.</div><div style="text-align: justify;">Qual é a minha série favorita? Essa. Talvez por ser totalmente desapegada à ficção, por sempre trazer histórias reais, interessantes. Dramas verdadeiros que foram resolvidos com o tempo. Diversões em grupo que se tornaram episódios para toda uma vida.</div><div style="text-align: justify;">A série pode trazer meu nome. Mas é porque eu tenho muita coisa para contar. É porque tenho muita coisa para esconder. Traz meu nome porque apesar de tudo, conta a história da minha vida. Mas o que eu posso fazer se eu conto com os melhores atores do mundo para interpretar as melhores histórias do mundo, mesmo que para um único telespectador?</div><div style="text-align: justify;">Sim, minha vida é uma série. E por ser baseada em fatos reais, reflete em si o que o ser humano tem de melhor: suas verdades, suas mentiras. A bondade, a maldade. Sem rodeios, sem disfarces. Desculpe, é que prefiro assim. Na minha série favorita não há espaço para ficção.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-89074918304693517942010-12-12T04:43:00.004-02:002010-12-12T05:25:49.033-02:00Sintonizados<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Rl60GTGERR8&feature=related" style="font-style: italic;" target="_blank">What Of Me - Trespassers William</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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Dizem que não existem laços mais fortes que os de sangue. Eu poderia comprovar isso perfeitamente, uma vez que conheço inúmeras pessoas que se dão muito bem com suas famílias. Não quero aqui entrar nessa discussão, não vou exemplificar com exemplos próprios. Não que eu não possa exemplificar isso dentro da minha própria casa, mas é que hoje quero provar que essa premissa não é verdadeira.</div><div style="text-align: justify;">Quero na verdade direcionar esse texto a uma pessoa. Eu poderia colocar um "talvez" no meio das minhas próximas palavras: "talvez a única capaz de me entender tão bem, talvez o melhor amigo que terei por toda a vida". Mas como eu já percebi, retiro sem medo o "talvez", trocando-o por um "sem sombra de dúvidas". Há meses venho pensando nessa amizade, que começou de uma forma não convencional. Há meses queria escrever sobre a nossa sintonia mas não sabia como dizer o que quero registrar aqui. Me permiti tentar.</div><div style="text-align: justify;">Como citei logo acima, hoje provarei que existem SIM, laços mais fortes que os sanguíneos. É como se tivéssemos nosso próprio DNA, só nosso. É como se fôssemos mais que amigos, mais que irmãos. Mais que gêmeos. Já disse a você que nos completamos, mas descobri uma palavra que se encaixa melhor: estamos SINTONIZADOS. Uma sintonia que vai além da já experimentada pela grande maioria de melhores amigos. É algo que, para mim, beira o inexplicável.</div><div style="text-align: justify;">Eu já ouvi quando criança que alguns irmãos (e isso é mais comum entre irmãos gêmeos) são capazes de sentir o outro, mesmo distantes, sentir o que acontece há quilômetros. Não somos irmãos, nos conhecemos há dois anos, mas é basicamente isso o que me une a você: uma capacidade de sentir, mesmo que distante, o que se passa contigo. E não foi algo que me aconteceu uma única vez. Poderia enumerar umas três ou quatro, mas nunca te falei sobre isso porque até eu achava uma bobagem. Mas não é. O que nos une não pode ser chamado apenas de amizade. Essa é uma palavra muito comum e nossa amizade não é comum. O que nos une é essa sintonia que viaja grandes distâncias e permite que você se comunique comigo mesmo quando eu sequer sei onde você está.</div><div style="text-align: justify;">Há alguns dias você se comunicou comigo sem saber e eu deixei isso passar. Há alguns dias, do nada, me senti mal, fiquei triste de uma hora para outra, sem saber o porquê. E não me assustei quando à noite vi que você não estava muito bem. É a nossa sintonia. No dia seguinte reli o texto que você me escreveu no meu aniversário. Senti sua falta, senti falta de te der por perto e mais uma vez deixei isso passar. Conversamos muito hoje, mesmo que pela internet. Foi exatamente o que eu sentia falta, nossas conversas sinceras, como eu mesmo escrevi para você. Foi quando você respondeu que sentia falta da minha companhia. E mais uma vez essa sintonia apareceu.</div><div style="text-align: justify;">Olha, amigo. Eu sempre tive medo do dia em que nos separaremos. E sabemos que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer, seja pela falta de tempo para encontros e conversas, seja porque talvez poderemos morar em cidades diferentes. Tive medo de não te ter por perto. Mas analisando todo o nosso histórico, essa sintonia é melhor do que nada. Ok, nada pode substituir seus olhos e tudo o que eles me passam, mas pelo menos, mesmo sem você saber, você se comunica comigo e me avisa quando não está muito bem. E eu, aqui do outro lado, longe, posso chorar baixinho, tentando tirar a sua dor. Talvez isso não funcione, mas tenho a esperança de que da mesma forma com que você me "diz" que está mal, eu possa chorar por você e te fazer melhorar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>- Foi bom ouvir você hoje. Estava sentindo falta dessa nossa sinceridade toda.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>- E eu estava sentindo falta de você. Ponto.</i></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-17861874161166523342010-10-15T22:48:00.002-03:002010-10-16T02:34:52.891-03:00Sobre estas e todas as coisas.<span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Ztha9VWxtOU" style="font-style: italic;" target="_blank">Mark's Song - Eastmountainsouth</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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<div style="text-align: justify;">Crises. O que são crises para você? Me acostumei com as minhas. São crises de nostalgia, nada mais. Me ponho a pensar sobre estas e todas as coisas: quantas vezes eu já passei tentando explicá-las para quem eu achava que as entenderiam? Ninguém é capaz de entender. Ninguém entenderia a intensidade destas nostalgias. Não as minhas. Não é fácil explicar, não é fácil descrever em palavras momentos desimportantes de dez, quinze anos atrás, mas que agora ganham uma importância inenarrável para mim.</div><div style="text-align: justify;">Quem um dia chegou mais perto de entender me disse que isso é a fuga que eu tenho. Meu porto seguro e acolhedor, onde eu sempre volto quando sinto falta de silêncio e paz. Não. Há quatro meses eu não estava em crise. Isso explica eu ter estado tão fora de mim. Nunca sou tão sensato quanto em crises nostálgicas. Nunca tenho tanto foco quanto em momentos assim. É resultado da inocência velada. Existe ainda uma criança dentro de mim. A que ouviu atentamente o pai explicar o porquê da lua cheia estar tão grande naquela noite em Goiânia, quando eu ainda nem sonhava em morar aqui. Aquela criança que olhava para o céu e se maravilhava com os telhados das casas antigas, as árvores e os papagaios de um final de tarde no interior. A criança que até hoje sente o calor do fogão à lenha da casa da avó.</div><div style="text-align: justify;">Nas minhas crises nostálgicas essa criança ganha ares e sai de mim. Fica ao meu lado, transmitindo em pensamentos o que eu devo e preciso ouvir, o que eu quero fazer mas que não posso. É um Gabriel de sete, dez anos que sabia mais do que eu pudesse imaginar. Sopros adultos naquela inocência ignorada que torcia para o tempo passar mais devagar. O tempo, como estamos cansados de saber, não para. Mas o que fica preso e vez ou outra escapa é justamente esta nostalgia que ganha espaço em momentos como este.</div><div style="text-align: justify;">De fato é meu porto seguro e certamente sempre será. Passei anos lutando por bons amigos e os encontrei finalmente. Mas agora somos adultos e toda essa coisa de responsabilidades ou obrigações por vezes nos deixam incomunicáveis. Daí o refúgio, daí a nostalgia: o Gabriel de sete, dez anos sempre estará disponível, basta chamar. Basta encontrar no céu o mesmo céu do interior. Basta a lua, cheia ou não. Basta o frio e o desejo de ter o calor da lenha que queima lentamente.</div><div style="text-align: justify;">Deixe-me apresentar o Gabriel de sete, dez anos. Ele veio passar uma temporada comigo e não sabe ao certo quando irá voltar.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_hq1rMPnCiedyuFP5w6yzFfnadgRRS6ahrlSowe4Ug4ewWqcsyCHXCJWN5P7sTIEcJJUhDvAAdXBjSJroTRVr0f6FpPQQypE03q3Ng3HC7quuOYNLy3mQ07NL2NJpA1r441OcsSWhiVO6/s1600/177812313.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_hq1rMPnCiedyuFP5w6yzFfnadgRRS6ahrlSowe4Ug4ewWqcsyCHXCJWN5P7sTIEcJJUhDvAAdXBjSJroTRVr0f6FpPQQypE03q3Ng3HC7quuOYNLy3mQ07NL2NJpA1r441OcsSWhiVO6/s400/177812313.jpg" width="400" /></a></div><br />
</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-26881362042188922642010-08-27T02:54:00.001-03:002010-10-15T22:46:42.977-03:00Sinta-se<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=GbWqsWR7cC0" style="font-style: italic;" target="_blank">Please, Don’t Go - Barcelona</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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Veja, olhe o presente que eu te dei. Sinta. Apenas sinta. Te fiz com uma característica única que talvez você nunca consiga manejar. Possivelmente você não saberá controlá-la, quando a terá, quando quiser parar de tê-la… Você não precisa saber dessas coisas, já disse. Basta sentir. E sabe por que não te dei o controle disso? Para te surpreender! Quando você menos esperar, ali estarei, não como pessoa, não em carne. Em alma. Porque sabes como ninguém que a alma está em todos os lugares. Posso estar no vento, em uma ou em todas as gotas de chuva, em uma ou em todas as gotas de suas lágrimas; posso ser árvore, troncos, terra. Pássaros, nuvens, ou aquele tom alaranjado do sol que acabou de encontrar sua pele. Era eu. Enquanto eu te deixava atordoado em emoções que nem sabes distinguir, pessoas ao seu redor continuavam suas vidas. E eu te fiz pensar nisso, te fiz ver o quão grande é o mundo, e o quanto valorizas as pequenas coisas. Sei que consegui. Você olhando pela janela é a coisa mais linda que eu posso ver. Te vejo enquanto você vê os outros. Sei que você queria poder gritar, abraçar todo um mundo que te parece estar tão longe, mesmo a 5 metros dos seus olhos, mas calma. Você é único, se abrace primeiro. Você é todos, um pedaço de cada um. Nunca mude isso. Não permita se julgar porque eu deixo você ser e fazer o que quiser, mesmo que sozinho. Você pode não sentir, mas nós dois sabemos que sentir é a única coisa que você deve fazer.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-14736875513472977452010-07-14T14:15:00.000-03:002010-07-14T14:15:33.206-03:00Memória.<span class="Apple-style-span" style="color: #0b161c; font-family: 'Lucida Grande', Lucida, Verdana, sans-serif; font-size: 10px;"></span><br />
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Odeio despedidas. Se bem que essa caminha para não ser uma. Queria apenas escrever minhas palavras de sempre, aquelas que falam mais que minha voz. As palavras, que vez ou outra me dizem que as domino bem. Não sei direito, mas tenho uma puta familiaridade com essas coisinhas que juntas me fazem sentir melhor.</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Hoje ainda voltarei para minha cidade natal. Aquela que eu sempre critico, seja pelas pessoas de cabeça fechada, seja pela falta do que se fazer por lá. Mas é de lá que eu vim. É lá que às vezes preciso voltar. Faz um ano que não piso em chão familiar e agora isso é mais que necessidade, mesmo eu ainda me perguntando se é o melhor que tenho a fazer. Mas a saudade é maior. A saudade de poder andar por cada uma daquelas ruas que, sim, contam muitas histórias de mim. Dos meus amigos. Dos meus pais. Aquela saudade de chegar na casa dos avós, abrir o portão, aquele código de tocar a campainha e gritar “vóóó”, para que ela possa destrancar a porta com segurança e finalmente vir te abraçar, enquanto você sente o cheiro do café que só as avós sabem fazer. Sinto falta de poder sair à noite, de rever pessoas incríveis que voltaram ali pelo mesmo motivo talvez. Falta do frio da madrugada, do silêncio que não é igual ao de nenhum outro lugar. E confessar que na minha atual conjuntura, estou sentindo saudades até de ter que visitar as tias que se trancam por medo de uma violência infundada, tias as quais nunca entendi. “Que doença é essa que ela diz que tem, mãe? Que paranóia é essa de não deixar ninguém a abraçar?”</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">O fato é que como eu disse, aquela merda de cidade ainda vive dentro de mim, por mais que não seja a mesma do meu tempo. Essa não é a mesma praça que eu brincava, aquela não é a mesma calçada que um dia eu desenhei. Mas, por incrível que pareça, as árvores ainda são as mesmas, e eu ainda carrego comigo essa minha espécie de energia natural. As árvores são as únicas que não mudaram, que ainda têm as mesmas histórias para contar.</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Eu preciso voltar. Nos últimos doze meses fiz de tudo aqui. Lutei, briguei. Pensei muito, agi pouco. Perdi oportunidades que julgava ter tido e que hoje não passam de especulações. Menti, desmenti, menti de novo. Falei a verdade para quem julguei necessário contar. Arrumei estágio, tive medo por ter uma jornada de 16 horas fora de casa. Juntei meu dinheiro e fiz uma das coisas que eu sempre sonhei: viajei, fui viver. E com a melhor companhia que eu poderia ter. Com o único amigo que eu tenho. Não se sintam menosprezados, mas aqui a palavra “amigo” vem com seu significado mais original possível. Meu único amigo, meu melhor amigo. Uma pessoa que mesmo mais nova, às vezes me assusta com seus olhos de ancião. Vivemos muita coisa juntos, acreditem. E vivemos juntos muita coisa de cada um de nós. Vivemos muitos dias nascendo, e eram nesses momentos que eu tinha a total certeza que existiam apenas duas pessoas no mundo pensando e fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo.</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">E foi por essa amizade que passei meus últimos seis meses com os pensamentos a mil. É a única pessoa que me ouve por inteiro e, entendam, essa pessoa mereceria um prêmio por ouvir sempre a mesma besteira aqui. Eu sei que ela abdicaria de qualquer prêmio por isso porque ela gostava de me ouvir. Mas isso não diminui a minha gratidão por toda essa paciência. Sabemos que sempre somos recíprocos. Nos damos tapas na cara, nos abraçamos. Mas sempre voltaremos ao mesmo lugar, as mesmas tardes de diálogos banais com sucos de laranja e chocolates gelados. É o que eu mais sentirei falta. Não existe saudade alguma que supere a saudade que vou sentir de passar mais tardes assim, enquanto eu estiver longe daqui. Posso estar exagerando, de princípio, vinte dias não são nada. Para mim, são.</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Preciso ir. Preciso reaprender a demonstrar meus interesses e ideais. É algo tão simples e ao mesmo tempo tão incomum… Preciso me permitir voltar. Mas antes de tudo, preciso da coragem e segurança que eu sempre esqueço de guardar. No meu quarto tenho isso por todos os lados, mas a bagunça é tanta que sempre desisto de procurar. É a verdade, é isso que acontece. Mas, uma vez que eu sei meu ponto fraco, não posso mais me permitir errar.</div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: transparent; background-image: initial; background-origin: initial; border-bottom-width: 0px; border-color: initial; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-style: initial; border-top-width: 0px; font-size: 1.1em; line-height: 1.6em; margin-bottom: 0.8em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; outline-color: initial; outline-style: initial; outline-width: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Eu amo tudo isso, eu amo todo mundo e eu amo todo lugar. De formas diferentes, mas são as únicas coisas que eu eu tenho certeza que vou amar.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-2972625578571436262010-06-17T20:44:00.005-03:002010-06-17T23:52:15.311-03:00Como cães e gatos.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=gDb8hduT584" style="font-style: italic;" target="_blank">We Have A Map Of The Piano - Múm</a><span style="font-style: italic;"> - Música para embalar relacionamentos com gatos.</span></span><br />
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Analisando meus animais de estimação, algo interessante me veio à cabeça: eles são como as personalidades das pessoas em seus relacionamentos. Assim, os dividi em duas linhas de pensamento. Os cães e os gatos.</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><i>Meu hamster não entrou nisso porque ele se assemelharia mais a um filho, por só comer, dormir e, quando acordado, passar o dia brincando em sua rodinha. Peixes e pintinhos (sim, no interior você ganha pintinhos no dia das crianças na escola) também estão fora porque se você tem mais de 18 anos e ainda cultiva um desses animais, você teve problemas na sua infância.</i></span></div><br />
<b>Relacionamento com "cães"</b><br />
<div style="text-align: justify;">Todo mundo apóia quando você diz que vai ter um, todo mundo acha uma gracinha e se já não teve, sonha em um dia ter. É o mais fácil de lidar, apesar de que no início pode parecer meio chato. Seja pela alegria em abundância, seja bela bagunça que causa enquanto vocês não se acostumam um com o outro.</div><div style="text-align: justify;">Depois você logo percebe que está se relacionando com um cão quando ele faz alguma coisa muito ruim para você. Você briga a primeira vez e ele vem com o rabo entre as pernas e aquela cara safada de que te ama até o fim dos tempos. Basta então você descer um tom da sua voz que ele já abana o rabo e te enche de lambidas.</div><div style="text-align: justify;">Mas cão que é cão sempre faz de novo, e de novo, e de novo aquilo que você cansou de discutir com ele. E a cara safada de quem te ama até o fim dos tempos sempre volta, junto com o rabo abanando.</div><div style="text-align: justify;">É o que mais te domina, psicologicamente falando. Seja pela cara safada de quem te ama até o fim dos tempos (acredite, ela sempre é recorrente em momentos de brigas e tensões), seja por querer brincar e se divertir com você justo naquele momento que você só quer ficar sozinho em casa.</div><div style="text-align: justify;">Um cão sempre vai correr para seus braços (ou suas pernas, a comparação aqui serve para o animal e para os humanos) logo que te ouvir colocando as chaves na fechadura da porta para entrar. Você entra e quase é derrubado por aquele ser que vem do lugar mais inesperado do mundo, correndo e ávido por um abraço.</div><div style="text-align: justify;">Se você o chama, no meio do nome lá já estará o ser, riste, em pé, olhando e sorrindo pra você.</div><div style="text-align: justify;">Sempre quer passear, sem horários certos, de manhã, início daquela tarde em que você tem que sair corrido de casa pra trabalhar, ou 4 horas da manhã, quando você sem querer menciona que a madrugada tá agradabilíssima.</div><div style="text-align: justify;">É o mais fácil de conseguir, todo mundo sempre tem boas recordações e referências de onde encontrar uma espécie. Apesar de preferirem os de raça nobre, todo mundo um dia já teve um bom e velho vira-lata pra chamar de seu.</div><div style="text-align: justify;">É o mais difícil de se desgarrar porque vai dar aquele aperto no coração de vê-lo indo embora, com aqueles olhinhos melancólicos e que te transmitem um "eu nunca vou esquecer nossos momentos felizes", mas espera só duas horinhas com um novo dono pra você perceber que nada disso é verdade!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>Relacionamento com "gatos"</b></div><div style="text-align: justify;">Todo mundo despreza, diz que é difícil de lidar e que ninguém sabe muito bem como tratar. Com gatos não se tem meio termo: Alguns têm receio por se tratar de um animal muito calado. Outros preferem justamente isso.</div><div style="text-align: justify;">Não fala muito, não late toda hora, fica ali no mesmo canto a noite toda demonstrando toda sua "abundante" sentimentalidade com o olhar e com a cabeça virando para o lado e te ignorando na maior cara de pau. Aliás, se tem uma coisa que gatos sabem fazer como ninguém é isso: aquele olhar indiferente e aquele ar de desdém.</div><div style="text-align: justify;">Ao contrário dos cães, a adaptação aqui é demorada. Tem toda uma troca de olhares. Você vê uma vez, se interessa e já leva pra casa. De primeira, nada acontece, ele vai olhar todo o ambiente, vai sentar em todos os locais, conhecerá todo o território primeiro. E dará um jeito de ir embora sem te dar tchau.</div><div style="text-align: justify;">Mas não se desespere. Dê a ele um dia apenas. Se ele não voltar, ok. Mas se voltar, você ganhou mais que uma companhia. Você ganhou um aliado, um ser que entenderá todos seus gestos e todas as suas atitudes, mesmo sem precisar abrir a boca para te falar isso.</div><div style="text-align: justify;">Não gosta de muito contato, não gosta de pegação, não gosta de nenhuma demonstração calorosa de afeto. Quer dizer, gosta sim, mas fará de tudo pra te provar o contrário e não ceder.</div><div style="text-align: justify;">Adora dominar as situações. E continua sempre a te ignorar. Mesmo te amando com todas as forças você sabe que corre o risco de chegar em casa e não encontrá-lo, mas que quando você menos espera, ele surge pela janela e passa a demonstrar carinho por você da forma mais sublime possível. Sabe aquela onda de "não sei, mas hoje me deu uma saudade de ficar com você sem falar nada..."? Pois então.</div><div style="text-align: justify;">Dormem o dia inteiro. E quando acordam já querem sair para se divertir. SOZINHOS. Ele vai dizer que quer encontrar os amigos da rua (ou os amigos que fez na rua), daquele tempo das madrugadas sem lei. Podem cair na besteira de te trocar por algum desses amigos dele de rua. Mas se você fizer o mesmo e o trocar por algum dos seus amigos de balada, sem discutir ele vai voltar pra você como o ser mais necessitado de carinho do mundo, ronronando "eu te adoro" enquanto caminha pelo seu corpo inerte e indiferente (invertemos as situações) no sofá.<br />
Em algum momento você se verá completamente apaixonado por um gato. Mas terá medo que isso nunca seja tão recíproco quanto você gostaria. </div><div style="text-align: justify;">Um dia você vai explodir com isso tudo, com essa falta de demonstração de afeto, com essa mania de sair escondido na calada da noite. Mas você nunca se livrará dele com facilidade. Na hora de botá-lo pra fora, ele não vai sair por conta própria, vai se esconder em algum canto da casa. Se você decidir fazer isso da forma mais definitiva possível, pegando pelo braço, acredite: sairá arranhado, o deixará continuar na sua vida mas vai ficar pelo menos duas horas sem chegar nem perto. Mas depois, vocês dois se olharão e verão que apesar de tudo, se amam mutuamente, cada um do seu jeito.</div><div style="text-align: justify;">Segredo: todo gato, por mais esnobe e indiferente que seja, tem o seu ponto fraco. Aquele carinho fofo no cotovelo esquerdo que o desmonta, ou aquele pegar no colo e passar hoooras fazendo cafuné. Em resposta, ouvirá gemidos baixos carregados de prazer.</div><div style="text-align: justify;">Não, isso não é uma descrição de orgasmo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E eu prefiro os gatos. Mil vezes. </div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-23431601319080659522010-05-18T01:00:00.005-03:002010-05-18T01:09:30.563-03:00Tua estrada.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=7hWWEkWsscg" style="font-style: italic;" target="_blank">30:55 - Oláfur Arnalds</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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Você tem uma estrada. Um caminho a percorrer. Mas tudo se desenvolve e evolui. Duplicaram esse caminho. E quando você menos espera, tem ali, ao seu lado uma via de mão dupla. Você tem seu destino e uma rota traçada da qual só espera chegar. A ansiedade logo à frente, em mais uma curva. São as mesmas curvas que você está cansado de ver passar, mas que sempre te enchem de esperança, como se depois terias o que tanto esperas: a visão, mesmo que distante, de onde você quer chegar. Mas aí você se lembra que em vias duplas, com a mesma precaução, alguém faz o caminho inverso. Inverso para você. Alguém tem os mesmos desejos, os mesmos objetivos a cumprir, a mesma pressa de chegar. São viagens corriqueiras e sempre em algum ponto da estrada vocês vão se encontrar. Você vai, e vê voltar. Reconhece o carro que te traz tantas lembranças. Intensas. E nesse momento percebe que deveria pegar o próximo retorno, ainda a ponto de seguir aquele carro e ir atrás, seguindo, não sabendo ao certo para onde ele irá te levar. Mas você confia. E por um momento, às vezes sem pensar, acredita que o destino inverso lhe reserva surpresas melhores que o seu. Ainda sem pensar você dirige. A paisagem não lhe faz diferença, seu objetivo é apenas seguir. Ser guiado pelos passos de alguém que assim como você, tem lugar e horário certo para chegar a algum lugar. E você abdica das suas certezas para se contentar com um punhado de agitação, um bocado de curiosidade. Sempre que você segue caminhos, sabes bem o que vai encontrar. O péssimo hábito de seguir. Não para ter ou fazer aquilo que o outro tem ou faz, mas na esperança de ser notado, na esperança de que reconheçam seu propósito de ter mudado sua rota apenas para tentar de novo aquilo do qual você escolheu se distanciar. Você volta, vendo à sua frente a mais bela paisagem já criada por alguém. Esquece tudo pelo que passou no lugar anterior, se prometendo que dessa vez fará tudo diferente. Se prometendo que dessa vez tentará um atalho para surpreender e chegar à frente, ainda a tempo de estender os braços e receber com seu tão ensaiado olhar.</div><div style="text-align: justify;">A vida é como uma estrada. E por mais que a conheçamos de cor, todos os seus detalhes, todas as suas peculiaridades, ainda teimamos em nos deixar voltar. Ainda acreditamos que como em um passe de mágica, o simples fato de você ter saído e voltado logo depois justifique um destino diferente daquele que desistiras dias atrás, quando achou que novos ares era o que lhe faria bem. Você acredita que as mesmas pessoas, as mesmas ruas, as mesmas luzes acesas agora estarão diferentes pelo simples fato de que o hoje nunca mais será o ontem. Mas você nunca lembra que o hoje também não será o amanhã. Dúvida: voltar ou ir em frente? Se perder novamente ou aprender a caminhar?</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-23278578570301167392010-03-25T05:30:00.002-03:002010-03-25T05:33:37.811-03:00O pintor de quadros.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=j2GjOC79gVI" style="font-style: italic;" target="_blank">Olsen Olsen - Sigur Rós</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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Em algum lugar neste mundo existia uma cidade. E em meio a milhões, existia uma única pessoa capaz de sentir o que ninguém conseguia sentir. Essa pessoa era especial, trazia como bagagem a experimentação de duas vidas, cada uma separada por fases que vão e voltam, derramando pingos de passado nos olhos do futuro. Apesar de tudo, era uma pessoa capaz de sonhar. Talvez isso a fizesse diferente. Seus sonhos eram só seus, mesmo essa pessoa querendo que esses sonhos se exteriorizassem e atingissem um único coração, que poderia ser outro amanhã, e depois outro, e mais outro. Naquele momento tudo estava voltado para um único lugar, um mesmo lugar.<br />
Ele tinha amigos, confidentes, admiradores. Só que ele também tinha uma cabeça que lhe mostrava a outra face da cidade, aquela de pessoas frias e esquisitas. Ele não podia entender por que todos eram diferentes, por que todos agiam pelos seus próprios interesses. Por que não viam o mundo com seus olhos de sonhador? Foi quando se isolou. E se trancou. Dentro de um corpo tudo estava guardado, sem saída, sem lugar para respirar. Não se importava, tudo estava bem.<br />
Ele tinha dons. Fotografava palavras em sua mente e pintava quadros com o olhar. Como todo artista, sua observação se tornava aguçada nos momentos de inspiração. E foi em um deles que tudo aconteceu. Era madrugada e no horizonte nuvens tocavam o chão. Mudo, olhou para o lado e começou a conversar. Sim, não tinha ninguém ali, mas ele conseguia perceber ele próprio ali do lado, olhando e conversando, trançando as mesmas palavras mudas daquele dialeto que ele conseguiu criar.<br />
Seguiu-se assim por alguns minutos. Ele contava sua vida para o seu outro eu, que pacientemente ouvia tudo, confirmando com sorrisos seu interesse de estar naquele lugar. Riram, choraram, se abraçaram e trocaram juras de amor. Seria egoísmo da sua parte amar a si mesmo? Mas ele sentia que sua falta de limites preenchia o espaço da desconfiança e que seu coração não lhe deixava enganar: estava diante da pessoa mais sincera do mundo.<br />
Vejam só: mais um dia começou a nascer. Estava na hora daquele encontro acabar. Pediu licença para fotografar as palavras da despedida, enquanto pintava mais uma vez com os olhos, agora todo o cenário do céu a clarear. Quando terminou, ambos estavam sentados e foi assim que os dois voltaram a ser um. O seu eu lhe ofereçera o colo, onde ele deitou a cabeça, encolheu os pés e sentiu firme os braços que lhe trouxeram calma. Seu eu sorriu, inclinou a cabeça e se moldou à parede que servia de encosto desde então. Ambos dormiram. Foi a última vez. Quando acordar, ele terá consigo o coração daquele ser que novamente lhe permitira sonhar.</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-21867337012609430462010-03-10T05:26:00.001-03:002010-03-10T05:27:17.805-03:00Xeque.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=JevuFkXrLi0" style="font-style: italic;" target="_blank">Trust Me - Dee Joy</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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São em momentos como estes que eu me sinto completamente louco. Amo e odeio insinuações passionais. Todos somos assim. Somos todos loucos, então. A loucura diária em buscar prazer pela necessidade de se mostrar, talvez para conseguir o olhar que se precisa nas horas que dele precisamos. A vontade louca de avançar nesse alguém até ontem inexistente, de sussurar palavras poderosas aos ouvidos de quem se dispõe a ouvi-las. Loucos desejos. Ter sonhos em um dia, insônia em outro, ambos causados pelo mesmo motivo: você. Desconexo. Complexo. Pelo menos transformo loucuras em texto enquanto não partimos para a ação. E para os neuróticos, somos um prato cheio de segredos. A imaginação é fértil o suficiente para servir com álibi quando tudo finalmente acontecer. Eu vejo, sinto, aproveito. Eu perco oportunidades e continua tudo bem. Me canso, me bloqueio. Desejo a indiferença e NÃO está tudo bem. Ouço opiniões das quais compartilho, mas nunca consigo tirá-las do papel. Estou com tudo pronto, pensado até demais. Meu medo tem dois caminhos mas não sabe por onde ir. Fácil seria se meus rabiscos criassem vida, se tivéssemos o dom de mudar palavras. Complicamos. Nossa comunicação por olhares nos deixa subjetivos. É um jogo de egos, onde o prazer está em roubar prazer sem se tocar. É sorrir por dentro e esperar o lance final.</div>Xeque.Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-49808990960509417942010-01-14T00:00:00.003-02:002010-01-14T00:02:41.558-02:00A ferramenta.<div style="text-align: justify;">E por passar décadas se dizendo independente, ele agora consegue enxergar tudo com a clareza que lhe faltava anos atrás. A independência é uma ferramenta. E como toda ferramenta, necessita de prática para seu bom manuseio. Praticava tanto que a usava de forma intuitiva, enquanto resolvia suas outras funções denominadas vitais. Sua ferramenta estava velha, começou a apresentar falhas, pequenas falhas, mas ainda conseguia resolver tudo com praticamente a mesma destreza de sempre. Ele acha (porque não consegue dar outra explicação) que perceberam e por isso lhe deram uma nova no Natal.<br />
</div><div style="text-align: justify;">E é como todos já experimentaram: por mais que você esteja acostumado a utilizar uma ferramenta qualquer - por mais velha que ela esteja - quando você ganha uma nova, leva um tempo enorme para se acostumar, para amaciá-la, deixá-la do seu jeito. Sua nova ferramenta sequer veio com manual.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Acostumar-se para ele requer mais cuidados do que as pessoas imaginam. Ao mesmo tempo em que se deslumbra com o novo, está ligado ao antigo. E por estar com falta de tempo de praticar, o novo, o antigo, o agora se fundem. Em sua cabeça todos esses momentos estão misturados a ponto de atingirem a sua ferramenta principal: o olhar.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele não está conseguindo encarar como sempre. Ele tem vergonha de olhar porque se sentirá extremamente desconfortável caso alguém perceba sua desastrosa tentativa de se acostumar com as novidades. Os anos de prática pelo menos ainda lhe servem de preparo, ele sabe lidar com isso. O problema é que a nova ferramenta foi um presente de um grande amigo e ele se sente no dever de usar todas as suas funções.<br />
</div><div style="text-align: justify;">E assim segue, decifrando caminhos por onde já se imaginou passando mas que nunca teve oportunidades de passar. Ou nunca teve a ferramenta certa para isso. Ela também abre portas, descobriu. Mas é tudo tão diferente e ao mesmo tempo muito igual a tudo que ele já viveu... Na verdade ele passou anos ensaiando o que hoje vê à sua frente. E de que adiantam os ensaios se improvisos funcionam melhor e lhe dão a carga emotiva que supostamente precisa? Novas ferramentas trazem a jovialidade de uma mente carregada de "por quês?".<br />
</div><div style="text-align: justify;">Em meio a tantas dúvidas e confusões, buscou na caixa do produto alguma informação extra que pudesse lhe redirecionar. Manuseando-a, percebeu uma pequena frase quase que escondida na lateral da embalagem. Pôde ler e então encontrou o que queria: "Liberdade é parte integrante deste kit. Não pode ser vendida separadamente".<br />
</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-65138531291162731632009-10-25T18:01:00.008-02:002010-01-13T22:58:40.187-02:00Monólogo de um final não decidido.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=1Aso0_gnMoA&feature=related" style="font-style: italic;" target="_blank">New World - DeVotchKa</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br />
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"Seguiremos as predisposições dos nossos caminhos. Mas antes, uma ressalva: não me interrompa. Mesmo que eu passe longos períodos calados olhando para o lado oposto ao seu. Não são os olhos apenas que enxergam o mundo à nossa volta, mas toda uma orquestra de sentidos.<br />
E se o olhar para o lado significar fuga, foi tudo milimetricamente planejado. Foi tudo pensado para perdermos tempos que nesse momento ainda não são preciosos, mas que um dia serão. É que há muito caímos na rotina e pelo menos eu não sei como nos tirar de lá. Sempre o mesmo momento. Sempre as mesmas expressões, os mesmos bancos, os mesmos diálogos. E sempre que as mesmas coisas se repetem, o mesmo sentimento de pressão reaparece sugerindo que a qualquer momento tudo pode ir pelos ares dando espaço àquela certeza de deixar tudo para trás para juntos finalmente tentarmos a coisa certa a se fazer.<br />
Isso! Sorrisos. Muitos sorrisos. Não estamos nos separando. Isso nunca vai acontecer porque eu não quero que aconteça. Trarei portanto seus distúrbios para que eu mate meu tempo tentando entendê-los um por um. Firmarei assim a base pela qual passarei a operar nossa complexa guerra de egos. Oras! Sabes que nossos combates são as coisas mais divertidas que existem!<br />
Já ia me esquecendo: deixei um presente no armário. Acho que o estoque será mais que suficiente para todo esse tempo em que não nos virmos. Use-o bem. Não foi fácil encontrar essa quantidade toda de sossego.<br />
Olhe! Os fogos! Parecem saber que vou partir pela segunda vez! Terás hiato de uma semana. Serei o nosso Deus e criarei tudo de novo em silêncio por seis dias. No sétimo, descansarei. Quando ouvir os fogos de novo, saberás que estou de volta.<br />
És a hora. Deixe-me então te dar tchau? Sentirei mais falta dos seus olhos do que de mim mesmo. Ficarei bem. Eu tenho a plena certeza de que tudo isso é momentâneo e representa na verdade a tentativa de um novo recomeço. Pra mim."<br />
</div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-52582297667051737602009-09-26T18:30:00.006-03:002009-09-26T20:12:34.928-03:00A gangorra.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a style="font-style: italic;" href="http://www.youtube.com/watch?v=MGBKoZrJ5gI" target="_blank">The Winner Is - DeVotchKa</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br /><br />No meu copo de whisky só tem entrado café. Tem sido assim ultimamente. Beber para esquecer é para os fracos. Os fortes sabem que uma vez acontecido, nada apagará o que foi feito. Beber para se encorajar também é coisa de gente sem personalidade que acha que um copo de alguma coisa te liberta de todos os problemas e te traz as soluções. Não serei mentiroso em afirmar que nunca fui forte ou fraco. Sou os dois, em determinados momentos, naqueles onde cada uma dessas situações se encaixavam bem.<br />Não sei, mas ultimamente me cansei de tudo isso. Ser forte, ser fraco... Essas coisas requerem algum extremo. Não confio em extremos. Prefiro me guardar e ser as duas coisas ao mesmo tempo. Para um forte, vários fracos tentam puxar o tapete. Para os fracos, mil fortes que servem de exemplo inalcançável. Sabendo mediar as duas coisas você passa a ter duas linhas de frente.<br />Os opostos se atraem, sejam em qualquer ambiente ou situação. Mil fortes falarão agora que não existem benefícios em ser fraco. Sim. Existem. Quando se é fraco você ainda tem escolhas. Só você pode reverter uma situação. E revertendo você percebe o quão forte é. Vários fracos buscam derrubar um forte. Existiria então benefício pleno em ser superior? Superior é aquele que se dá bem com todos, fortes ou fracos. Muitos fortes por aí se enganam em não pensar assim.<br />Meus olhos dividem a cena em várias. Em cada quadrado uma situação. Pessoas diferentes, fortes, fracas. Todas com possíveis problemas e soluções. E eu aqui, vendo tudo à altura dos meus olhos. Nem acima, nem abaixo. Gente feliz, gente triste... Todas desfilando suas vidas. Agradecem por muito ou reclamam por pouco. Só eu enxergo erros aqui?<br />Me viro e vou. Dou as costas para essas pessoas que acham que sabem o que é chegar a um extremo. Eu agradeço e reclamo. Agradeço por cada detalhe ou coisa pequena que eu consiga fazer. E reclamo também, por que não? Mas somente quando algo realmente é grandioso para se reclmar. Não sei, mas às vezes me acho diferente. Penso diferente de tudo, sou um pacifista de primeira e sempre vou ver os dois lados da moeda. Por mais que doa falar a verdade quando são as mentiras que muitos querem ouvir.<br />É como uma gangorra: Forte de verdade é quem se coloca no meio, equilibrando e distribuindo a força necessária para o lado oposto, trazendo um pouco para o chão aquele que voa demais.<br /></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-3948588773212201232009-09-18T01:23:00.004-03:002009-09-18T01:45:01.462-03:00Um pai.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a style="font-style: italic;" href="http://www.youtube.com/watch?v=mEYQwkJLTU0" target="_blank">The Grand Finale - Danny Elfman</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br /><br />Disse a um amigo que às vezes me sinto como se fosse um pai. Interessante descrever: aquele sentimento de carinho misturado com um pouco de possessividade, aquela coisa de sempre querer o bem, sofrer junto, rir, dizer só com o olhar que por mais que ele tente esconder ou queira desesperadamente mostrar, você sempre irá entender todas as suas atitudes. O sentimento que te faz observar de longe e sorrir consigo mesmo, sabendo que as atitudes dele já foram vividas por você, e que ele, só ele, poderá escolher se fará as mesmas coisas ou mudará o próprio final.<br />No início o pai deslumbra o filho, tem medo de doenças, de machucados ou brigas com os coleguinhas do jardim de infância. Depois o filho cresce, e aprende a andar com as próprias pernas. Cria suas próprias referências, faz suas próprias escolhas. O pai ali, do lado, se torna coadjuvante por alguns momentos. E o filho cresce. E já superficialmente independente começa a se mostrar como um vencedor para seu pai. E cresce. E passa a te cobrar conselhos, começa a perder o medo de desabafar. E você, como um pai, sempre quis que esse momento chegasse. Mas você sempre quis ser ouvido, até antes, e agora se vê sem nada para falar. Faltam palavras, sobram olhares, sorrisos e compreensões.<br />Um filho transforma um pai. Eu, que sempre fui orgulhoso e dono de mim, por você aprendi a me moldar. Deixar o orgulho de lado, aceitar quando lhe cabe, se mexer quando é devido e necessário. É saber que agora você também cuida de outra vida, que tem mais alguém para te acompanhar, mesmo que esse alguém não esteja perto. É sentir a saudade de estar longe por míseros dois dias. E eu, que sempre fui orgulhoso e dono de mim, ainda ando me acostumando a me deixar de lado para te agradar.<br />Ensinar e aprender. Você ensina, você aprende. Desperta em si o espírito da humildade. Conjuga mais o verbo compartilhar. E compartilha tudo, do mesmo copo ao mesmo olhar. E em cada gesto sempre dá um jeito de trazer ou levar ensinamentos, usa cada oportunidade para criar lições de vida, desde as mais simples até aquelas difíceis de aceitar.<br />Eu e meus sentimentos de pai.<br />Vai filho, cresce. Você finalmente sabe que eu estarei sempre junto, sempre que você precisar.<br /></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-86981682880621925572009-08-30T01:13:00.002-03:002009-08-30T01:23:44.192-03:00A resposta para todas as coisas.<div style="text-align: justify;">"Acho que é a segunda vez até agora que eu te mando uma espécie de e-mail-texto-desabafo. Mas fique tranquilo, o assunto aqui não é diretamente nenhum problema meu. O simples fato que culminou em me fazer escrever linhas e linhas para você às 3h50 da manhã é algo que tirou meu sono por todo esse fim de semana e que vou detalhar agora porque não aguento mais guardar uma pequena decisão pra mim. Sabe aquela conversa nossa no MSN que eu editei e botei no meu blog? Pois é... Ela é a chave para tudo isso aqui, meu caro! Você vive me dizendo que tem medo que eu não acredite na sua sinceridade para/com a minha pessoa. E eu sempre quis te provar que eu acreditava nela desde o nosso primeiro contato. Andei pensando muito na forma de retribuir todo o respeito que você tem por mim, pensando em como eu poderia retribuir cada momento que você estava presente pra me ajudar, cada sorriso, cada linha escrita por você, cada olhar seu que entendeu o que se passava em minha cabeça. Queria retribuir tudo isso à altura e, igual a você, tinha medo de não conseguir. Com o agravante aqui que eu sou acostumado à subjetividade! Portanto, quadruplique cada sentimento meu e você terá meus verdadeiros sentimentos. Enfim. Aconteceram muitas coisas na minha vida até agora. A maioria das coisas que você possa imaginar eu já deva ter passado. Eu cresci com muita coisa na cabeça, sem saber como agir em certas situações. Talvez pelo fato da criação padronizada de cidade do interior, como você chegou a citar nessa nossa última conversa. E isso é o que sempre me bloqueou para você. Por mais que eu não demonstre, sou uma pessoa completamente dependente. Eu preciso de gente ao meu lado, eu preciso de apoio em qualquer situação. Porque não falo muito sobre os meus problemas, mas é só eu ter pessoas especiais ao meu lado que elas me ajudam a resolvê-los, mesmo sem elas saberem que eu estou passando por qualquer tormenta ou pequena dificuldade. Tenho muita coisa pra falar sobre mim que eu nunca disse pra ninguém. Frase clichê, mas não nesse caso. Coisas que eu tenho vergonha de ter feito e que fiz, sem me arrepender. Isso é papo pra uma madrugada inteira de conversa fluida, regada a bebida e boa música. Eu sei que essa madrugada um dia vai chegar. E eu não quero adiantá-la de forma alguma. Enquanto isso, saiba que eu confio em você da mesma forma que você confia em mim. Você finalmente me encorajou a me abrir mais e eu te disse que conseguirias isso mais cedo ou mais tarde. Saiba também que suas provas de amizade até aqui foram mais que suficientes pra que eu soubesse já a algum tempo que você é "A" pessoa mais apropriada pra ouvir a minha vida por completo. Finalizando, quero deixar aqui uma ressalva, como a escrita logo ali em cima: eu não quero adiantar esse assunto, não quero correr contra o tempo como um desesperado, por mais que você morra de curiosidade. Tudo nessa vida tem um propósito e algum dia ele chegará. Mais rápido do que eu imagino. Mais rápido do que você possa acreditar." </div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-48637861975514505962009-08-27T01:38:00.006-03:002009-08-27T02:13:58.639-03:00Confissão.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a style="font-style: italic;" href="http://www.youtube.com/watch?v=0k_Pe_iNYO4" target="_blank">When Your Mind's Made Up - Glen Hansard and Markéta Irglova</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br /><br />Já escrevi milhões de textos sobre como a chuva me transforma. Não tem sido diferente. Aliás, a única diferença aqui é que aprendi a ser mais centrado e feliz sem que gotas precisem cair do céu.<br />Não sei como, mas mudei. Na verdade podei muitos galhos mortos que atrapalhavam o crescimento de outros. Me surpreendi com o quão vigoroso foi o crescimento deles depois de tudo. Quero abdicar aos poucos dos meus vinte anos de vida medíocre. Não levemos isso ao extremo, mas certamente duas décadas demoraram para que finalmente eu entendesse meu propósito em relação a situações de escolhas importantes. Estamos em reformas.<br />Você me surpreendeu muito nos últimos dias. E eles foram tão intensos que as surpresas agora começam a ficar escassas. Maçante: definitivamente você não me assusta mais. Pelo contrário, agora é sua previsibilidade que me deixa nervoso. O que me orgulhava era ter visto em você uma pessoa especial, justamente por esconder seu lado precioso, soltando-o sem querer para aqueles que não imaginavam que existiam mais trilhos além do horizonte.<br />Quinze dias de mudanças, quinze dias de ação. Em um mês me mutei, refleti. Descobri a melhor forma de te abordar. Conquistei território, cheguei bem perto, parei quando tive que ir com calma. E agora não sei o que fazer. Tinha te desarmado, pois o jogo agora mudou. Estou nu, levaram-me as roupas, comidas, decisões. A sobra aqui no canto advém de memórias e pensamentos, dos quais nunca me desapoderarei.<br />Sim. Já tinha analisado essa situação e achei sinceramente que não chegaria até ela. Mas você se mostrou ser uma espécie de Gabriel, só que escondido. Na verdade o Gabriel que viveu até trinta dias atrás. Me livrei dele para chegar mais perto de ti e o que encontrei? Poderia ficar somente nisso, mas fui tentado a ir mais fundo. O resultado mudou: o seu Gabriel é mais fraco que aquele abolido das nossas vidas.<br />Isso me deixa sem palavras. Achei a chave do seu ser. Entrei em sua cabeça e me tranquei lá dentro. Agora não sei como sair e a cada dia chove mais. Estou protegido, mas você não. Revivo agora como espectador a vida que eu levava, chegando ao cúmulo de saber qual é sua próxima ação. Neste emaranhado de descobertas, apesar de todas as negativas, ainda gosto de te admirar. Porque sei que por trás desse metal todo ainda surgirá a sinceridade e os desejos daquele Gabriel fraco que agora reside em você. Eu, mais do que ninguém, sei lidar com ele.<br />E acima de tudo sei o que ele é capaz de fazer.<br /></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-27372256943208387312009-08-08T05:01:00.012-03:002009-08-09T18:36:00.593-03:00A filha do vento.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a style="font-style: italic;" href="http://www.youtube.com/watch?v=5YDdcls5hNw&feature=channel" target="_blank">The Blower's Daughter - Damien Rice</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br /><br /><div style="text-align: justify;">Cinco horas da manhã. Eu aqui. Arrebatado, nada cansado. Completamente feliz. Resolvi fazer um balanço da minha vida, tudo o que eu aprendi e descobri naqueles quinze dias sem contato com ninguém. Sim, me isolei. Mesmo. Não encontrei amigos, andei sozinho pelas ruas relembrando bons momentos. Filmes e séries recorrem a esse clichê com certa frequência: ficar sozinho para pensar em si mesmo. Nunca tinha parado para fazer algo assim, mas quando fiz percebi que clichês podem ser verdadeiros.<br />Marquei a data da minha mudança. Dois de agosto, meu aniversário. Quando a gente quer muito uma coisa, a gente chega até ela. Legal, mais um clichê que provo ser verdadeiro. Decidi então deixar de sofrer por pessoas e situações antecipadas. Quero sempre nosso bem. Nosso. Mais do que nunca. O medo não desapareceu mas está escondido, com vergonha dele mesmo. Lógico que ele ainda vai aparecer mais algumas vezes, só que terá medo dele próprio, medo de se pronuciar, até se calar por completo.<br />Estávamos todos ali e por um momento aconteceu. Fração de segundos. Foi esse o terceiro clichê. Do meu lado, enquanto andávamos, você disse duas palavras. Era algo até previsível, mas não vindo de ti. Confesso, fiquei sem reação. Virei levemente o rosto para você, quis te responder. As palavras não saíram. Não teria resposta pronta. Foi tão inesperado que julguei ter tido um sonho. Mas sua voz não me confunde. E eu já tinha sonhado com você.<br />A noite me surpreende cada vez mais. Queria te tocar, te sentir, queria sentir os seus cabelos. E fiz tudo isso sem você saber. Foi algo tão simples na verdade, que nem percebestes. O meu presente secreto de aniversário. Não tive você aos meus pés, mas ao meu lado. Tirei sua armadura e sorri quando antes eu teria ficado preocupado. É um bom começo. E um bom sinal. Olhar nos teus olhos e ver aquela pessoa que eu havia visto apenas uma vez foi incrível... Não podia te exigir mais. Foi um bom começo. E um bom sinal.<br />Não me preocupo mais com o amanhã. Os imprevistos do "hoje" me agradaram mais. Sofri por antecipar as coisas, já disse. O clichê de parar de sofrer antecipadamente funcionou e me fez completamente feliz quando vi teus olhos falando comigo, mais do que o seu corpo pudesse falar.<br />Os olhos. Eles mais uma vez te entregaram. Você sabia disso? <span>Foi como você disse que seria</span>.<br /><span>Não consigo tirar meus olhos de você.</span><br /></div></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7610333532474962285.post-34119904479015984982009-07-29T01:16:00.007-03:002009-07-29T02:04:48.715-03:00Um tempo e o nosso espaço.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ao som de </span><a style="font-style: italic;" href="http://www.youtube.com/watch?v=FyTGiGiXkkY" target="_blank">Set Down Your Glass - Snow Patrol</a><span style="font-style: italic;">.</span></span><br /><br />Brincava de astrônomo e de cientista quando pequeno. Minha fixação me fez ler precocemente temas complexos relacionados ao tempo e ao espaço. Tempo meteorológico e Espaço Sideral. Aprendi inúmeras coisas, sei que posso observar as estrelas e descobrir se a temperatura da superfície de uma é maior que a de outra apenas com meus olhos curiosos de criança. Consigo distinguir algumas poucas constelações. Perdi meu medo de lua e estrelas cadentes. Me disseram que quando criança eu chorava de medo ao ver o satélite. Hoje ele me fascina. A lua me acalma e mesmo poderosa me trata de igual para igual. Há algumas semanas acompanhei uma estrela cadente. A vi calma enquanto percebia que meu medo tinha passado. Todos os meus medos dos últimos dias tinham passado. Confidenciei a ela a grande ajuda que me deu. Ela agradeceu, se apagando logo depois.<br />Pessoas surgem como estrelas cadentes. Briham. Nos ofuscam. E se apagam no fim de uma linha, um ciclo. Como o daquela estrela cadente. Um momento fica para sempre, aquele trajeto é marcado para nunca mais se apagar. Eu olho para trás e tento tirar mais alguma coisa de lá. Você percorreu seu trajeto mas não se apagou. Lembro de detalhes, quando minha cabeça foi pega de surpresa te vendo dentro de você, vendo um você diferente do você habitual. É sim algo complicado, mas eu consigo interpretar seu ciclo de estrela cadente muito bem. Ando te confundindo com um cometa. Te vi passar uma vez e espero esse momento de novo. Demorarás. Um mês, um ano? Quinze dias? Sei ao certo que te verei voltar.<br />Me orgulho de olhar para o céu e interpretar as nuvens. Sei quando chove e quando esfria porque preciso de chuva e frio para me sentir aqui. Preciso desses momentos para encarar a verdade e perceber que a minha vida não é a sua, mesmo que eu as imagine juntas. Adoro frio, mas tenho medo de raios e trovões. Ambos me fascinam. Sua frieza serve de exemplo mas tenho medo de te ver trovejar.<br />Dentre essas leituras de criança precoce aprendi que no centro de um tornado o ar é calmo e limpo. Um olho nítido que faz o tempo parar. Nada acontece. De concreto, duas coisas: Algo forte aconteceu antes e algo forte acontecerá logo depois. Tormentas sacudirão sua superfície e abalarão a minha como me sacudiram e te abalaram ontem. Enfrentarei tudo novamente, agora com um sorriso no rosto.<br />Estou bem no olho do furacão. <a href="http://gablogabo.blogspot.com/2009/07/calendario.html" target="_blank">São quinze dias marcados no meu calendário</a>.<br />Dessa vez vai ser mais fácil porque na volta saberei onde te encontrar.<br /></div>Gabriel Rezende Motahttp://www.blogger.com/profile/11739726540065238629noreply@blogger.com0